André Anlub e Rogério Camargo 132

Uma pequena modesta singela flor obscura na beira da estrada.

Jeito jovem de imaculada nua, menina moleca, selvagem delicada, isolada só e nada à toa.

Seu perfume imperceptível soma-se a tudo mais de imperceptível nela.

Faz do externo sentinela e dos olhares alimento. É inércia e movimento, escultura e aquarela.

Que passa por ela passa pelo nada de uma vida toda e pela intensidade infinita de uma vida toda.

O vento a beija e nada, então ele se vai; o sol a embriaga e nada, então ele se vai; a lua lhe paquera, flerta, beija, embriaga e fica até amanhecer.

A tudo deixa passar estando. Não por acaso escolheu o anonimato. Escondida em si mesma, brilha ao sol de si mesma.

É flor formosa dona do pedaço, ocupando seu espaço de maneira magistral. É flor quieta de quenturas internas, sonhos intensos na saliva do açúcar e do sal.

Não há uma história para contar dela. Mas toda e qualquer história cabe nela, inteira, da maneira que quiser.

É apenas uma em mil, em mim, em nós, mas em todos ela desperta alguma coisa, algum sentimento, e isso ela já deixa de lembrança.

Flor particular, flor genérica; apenas uma e todas elas; insignificante e sustentando o universo.

Confesso que cria o fascínio, faz o dia ainda mais belo, menos arredio

E se eu tiver que lhe contar, vou lhe contar apenas isto:

É uma pequena modesta singela flor obscura na beira da estrada, bela e formosa como outra qualquer.

Rogério Camargo e André Anlub

(25/4/15)