André Anlub e Rogério Camargo 126
Tudo que te falo em incêndios tu me respondes em nuvens.
Na obviedade de Freiras tomadas de branco com passos rápidos nos jardins das abadias
Não se refletem as tuas respostas. Escapadiças respostas, que se diluem num céu cordato.
Quase tudo que te falo em dificuldades tu me abafas com um sorriso.
Talvez porque saibas muito delas, talvez porque saibas muito de mim ou talvez porque saibas muito do que nem sei que é pra saber.
Hás de convir com os viveres, pois tu és viveiro; vejamos os pássaros vivos que já voaram a tua volta. A mim couberam poucos, a ti aos montes.
Sou um vulcão e tu és a ilha que se forma quando a lava aplacada deixa-se moldar.
Ilha pacífica do Pacífico; equidistante vem o céu que te olha com flerte pela beleza exposta, pela formosura intrínseca na pele de deusa.
Sou o maremoto querendo engolir a ilha. Tu és o depois, o recolhimento de tudo que saiu do lugar, a limpeza da areia quando a areia é só areia.
Nesta areia, dentro da garrafa que enfrentou tormentas, chegam poesias, meu cheiro, meus sonhos e minhas lágrimas.
Com elas, minhas perguntas, feitas em incêndios. Para elas, tuas respostas, feitas em nuvens.
E antes que a fumaça cinza envolva o céu, antes que a pluma que voa toque a folha úmida e condenada, dou-te a única chance de me olhares bem, me olhares calmo, adormecido e apaixonado.
É o momento em que me respondes e eu sei que só a ti poderia ter perguntado, porque só tu absorves o incêndio, o vulcão, o maremoto e os deixa intactos.
Tenho por ti extrema admiração, pois não só me criaste e não só me completas, como também és minha imortalidade.
Imortal como a labareda que se alça e se recolhe, como o vulcão que convulsiona e se recolhe, como o maremoto que avassala e se recolhe, entrego-te o que é teu em mim e é assim que somos para sempre.
Rogério Camargo e André Anlub
(19/4/15)
Site: poeteideser.blogspot.com