André Anlub e Rogério Camargo 113
Arranca de forma violenta o tapa-olho de aço, cúmplice das cenas fantásticas e cruel ladrão de seu tempo.
A venda punha à venda o que não queria vender, o que morreria se vendesse. Enterra no quintal junto ao cachorro da infância.
Agora haja tempo para correção. No esconderijo dos sentimentos acenderam o lampião do (in) juízo: saiu – sumiu – senil foi a preguiça que agora sopra seu vento.
A distensão diz tensão também. O acordo acorda a corda que o enforcado pôs a dormir. Pensa num bilhete de despedida.
O mundo – o céu – a Via Láctea é pouco para quem deixou de ser rouco e quer cantar ópera.
Corre o tempo – é um contratempo. Vem a vida – é uma sobrevida. Se quer saber, não quer nem saber.
As águas escorrem pelas mãos: o arredio convida à mesa do bar da esquina; o monstro quer companhia para o banho no lago Ness; o garoto na laje quer cruzar sua pipa e o eterno é um segundo enquanto a água passa a seus pés.
Quem sabe não era melhor com o tapa-olho? Não, nada é melhor com o tapa-olho. De aço tem que ser a vontade. Fica à vontade para tremer.
Com tanta vida que perdeu, qualquer coisa torna-se um achado. O buraco de bala no muro torna-se um olho mágico que o remete à Baía da Guanabara.
Terra de cego não é terra de tapa-olho arrancado. Não há rei de um olho só na Baía da Guanabara que ele enxerga.
Se tudo é pouco, ele concluiu que o pouco já é tudo; é o obtuso do concluso, mas é que tem para hoje... e não é a fase de perder o seu fuso.
Confuso? Não para quem arrancou a venda porque não está à venda.
Rogério Camargo e André Anlub
(5/4/15)
Site: poeteideser.blogspot.com