André Anlub e Rogério Camargo 48

A porta aberta para o quarto vazio deixava olhar mas não deixava ver,

À meia luz tudo era repentino, tudo era tênue e curioso, de uma curiosidade ansiosa, expectante, que procurava esclarecimentos onde só havia hipóteses.

Com o passo à frente ouve-se o som de um sino, no esticar das mãos sente-se uma leve chuva.

Já não é mais apenas a porta de um quarto vazio aberta. É a porta de um mundo vazio aberta,

Como uma passagem incerta sem seta indicando direção; um vigente vão vazio cheio de interrogação.

O olhar trêmulo, as mãos fixas, os passos suando, a pele tropeçando, eis o avanço inevitável para quem quer saber,

Entra com ar de orgulho, como um mergulho profundo em parca iluminação, tateia com receio, meio que afasta teias de aranha, sentindo a sensação estranha de não estar sozinho.

Há mais coisas num quarto vazio de porta aberta do que os olhos não enxergam quando não enxergam; há a inspiração voando, a paixão deitada, o ódio debaixo da cama, o tempo descompassado.

E há o também. Incorpóreo também. Sem forma, sem nome, sem CPF, sem RG, sem NET, sem tablet, sem chiclete, também há o também. Com ele vem o além, o aquém, todo o universo e ninguém; naquele passo à frente se sentiu um rei vivo, pois pode ver com clareza seu reinado no presente, largando de vez – de repente, seu passado maldito.

Rogério Camargo e André Anlub

(30/1/15)

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