André Anlub e Rogério Camargo 29

Deixei um pedaço de mim naquela última esquina; aquela do ipê amarelo.

Este pedaço procura florir toda primavera, mas as lembranças do outono persistem.

Costumo me despedaçar com prazer, e arriscar: às vezes é áspero – às vezes terno.

Levo comigo o gosto do amargo doce e o gosto do doce amargo. Deixo nas esquinas o que é de deixar nas esquinas.

Já se foram amores eternos; já ficaram amores passageiros; deixo o guerreiro numa rua deserta

A meditar sobre ruas desertas habitadas por ipês amarelos. Ele não me conta muito de suas conclusões.

Ele faz ações sem muito pensar; ações de coragem e bondade, de igualdade e de paz; de guerra consigo mesmo e de guerra com quem mais houver; de silêncios e de tumultos; de lógicas e absurdos; tudo no mundo reservado às minhas situações.

Eu sou meu ipê amarelo de muitas cores. Eu sou minha esquina em linha reta.

Sou aquarela em amores; sou preto em branco nas dores e no viver, sentinela voluntária do que se passa e do não passará, porque ipês e esquinas passam, enquanto duram para sempre.

Rogério Camargo e André Anlub®

(9/1/15)

Site: poeteideser.blogspot.com