* Última Estação
Clara a mudança de ares
impregnados de sol e chuva,
como a vida que chega (e os mortos que passam)
num balé sem ensaio.
Clara a atmosfera, o papel em branco,
a voz da criança adivinhada ao longe
e a noite menina que se faz mulher.
A tinta se deitou na folha
e redesenhou a arquitetura antiga,
transmutando o alpendre em mirante.
Pode-se contemplar o luar ou a tempestade,
ou ficar à toa como tias em cadeiras
vendo um vento moleque a descer a rua
passando o dedo nas grades das casas.
E o vento traz com ele
uma corrente de folhas e flores e papéis.
As tias recolhem seus tricôs,
as cadeiras seguem-nas para dentro das casas.
As vozes das crianças
já foram dormir.
E dá-se início à dança
dos vaga-lumes,
à sinfonia das cigarras.
Fez-se dezembro.