DUETO

Fui sempre um grande leitor do clássico, da leitura do passado. Amo as origens, busco entender o mundo, o ser e o porquê. Em um tempo mais distante buscava a bíblica para compreender a verdade do Deus de Abraão, este gerando um filho aos cem anos Sara concebendo-o aos noventa e nove. Buscava o entendimento de Isaac como filho biológico do casal. Cheguei à história de Jacó, sua briga com o irmão e a fuga. O abrigo na residência do tio Labão. O amor de Raquel. Só então percebi que para escrever o célebre soneto Camões não chegara ao fim da leitura do texto bíblico. Daí nasceu-me a idéia de uma nova peça na qual fechasse a história como está no Livro de Deus. Nasceu o dueto. A história é um pouco mais. Porém tão conhecida e lida por tantos que não se comporta ser recontada. Fica-me apenas um grilo chiando nos ouvidos: não teria sido Jacó o idealizador e criador da inseminação artificial?

Sete anos de pastor Jacó servia

Sete anos de pastor Jacó servia

Labão, pai de Raquel serrana bela,

Mas não servia ao pai, servia a ela,

Que a ela só por prêmio pretendia.

Os dias na esperança de um só dia

Passava, contentando-se com vê-la:

Porém o pai usando de cautela,

Em lugar de Raquel lhe deu a Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos

Assim lhe era negada a sua pastora,

Como se a não tivera merecida,

Começou a servir outros sete anos,

Dizendo: Mais servira, se não fora

Para tão longo amor tão curta a vida.

2007/05/07 enviada por WebMaster

Autoria de Luís Vaz de Camões

Mensagens de Autores Famosos

Astúcia de Jacó

Sete anos por Raquel e sete mais por Lia,

De quebra, em cada leito uma franzina escrava,

Assim viveu Jacó, e muito bem vivia,

Na casa de Labão, de quem pastoreava.

Porque vivia bem e ainda melhor servia,

Seis anos mais ficou - e tempo lhe sobrava.

O que era branco e preto a Labão pertencia,

Sendo o malhado seu, e o resto que pintava.

Mas, por astúcias tais, que ninguém entendia,

O rebanho malhava, e pintava, e malhava...

Até branco e preto em pouco não nascia.

Labão, que tudo olhava e já o seu não via,

Os rebanhos contava, e contava, e contava...

Era tudo malhado... A Jacó pertencia.

João Justiniano da Fonseca