Receios (2 sonetos conversam)

Gus LXXVIII

Eu te quis dizer tantas vezes e nada,
E inclinei-me ao pé do teu ouvido,
Tanto ensaiei, e no fim só um gemido,
A ecoar, da chance desperdiçada.

Perdoa, oh tempo, a covardia insana,
De não te tomar em meus braços,
Quiçá aos gritos e estardalhaços,
Pois é minha voz, e é só voz humana.

Escorrem-me em lágrimas, lavadas,
Uma a uma as palavras não ditas,
Pela incerteza cruel, pressupostas.

A correnteza das falhas, resignadas,
É quem arrasta, as almas aflitas,
Com medo de ouvir as respostas.
Gustavo Schramm


Eco LXXVIII

Eu te quis ouvir tantas vezes e, ousadia
Colei aos teus lábios meu ouvido, minha essência
Fui anseio, clamor e sem sentido, tua ausência
Aguardando as palavras que sonhava e não ouvia

Terá sido reflexo dos receios que me visitaram
A covardia que te dominou e te botou silente?
É insano confessar que o colo ainda sente
A ausência desses braços que nunca experimentaram

Segue a alma lavada das lágrimas que são tuas
E as pressupostas palavras – engano em tuas deduções
Erram num ocaso, em busca do amor não confessado.

A correnteza trouxe o poema e pôs as almas nuas
Taquicárdicas respostas repletas de confissões
Ainda anseiam os abraços e as perguntas que tu tens calado.