Lágrimas Maternais I - VIII

Poema sobre a morte, inspirado no Conto: "História de uma mãe (1847-1848)", de Hans Christian Andersen. As estrofes do poema são formadas por quartetos.

I - A chegada do pobre velho

Estava a mãe junto de teu primeiro rebento

Aflita envolvia-o em teus finos braços

E os pequeninos olhos fechavam-se

Pálido e desfalecido, forçava o respirar.

Na pequena casinha a mãe agonizava

Não havia ninguém que lhe prestasse apoio

Viúva ficastes imersa ao profundo luto

Qual destino aguarda o pequenino bebê?

Um velho pôs-se a bater na porta

A mulher compadecida agasalhou o velho

Ele a observava embalando o berço

Desfigurada e com o coração dolorido

O velho era a personificação da Morte

A mulher fitou a criança e a face inundou

Três dias e três noites não ousou os olhos fechar

Ao tentar adormecer acordava imersa no frio

Desnorteada com sono e preocupada

Levantou para esquentar um chá no fogão

Estarrecida percebeu que o velho sumirá

Raptando a criança sem satisfações dar

A mulher no desespero derrubou a caneca

Os cacos espalharam-se por todo o chão

Ela saiu depressa berrando loucamente:

José! José! Meu filho José!!!

II - Noite: A mulher vestida de preto

Uma mulher vestido preto

Vendo o desespero da mãe, disse:

“A morte adentrou em sua casa,

tão veloz como o vento se foi!”

Desnorteada a mãe insistiu:

“Diga-me qual caminho seguiram!

Falar-te-ei se entoar todas as canções

Emanada de teus lábios que ninou tua criança!”

“Tenho sabedoria de todas que cantastes!

Não ouses ocultar nenhuma canção!

Eis que sou a Noite com o vestido encharcado

Por tuas torrentes de lágrimas!”

A Noite se conservou paralisada

Ao ver a mãe se contorcer

Na fusão de canções e lágrimas,

Jorravam com força da mulher!

A Noite profundamente compadecida

Tratou de revelar o caminho a ser seguido

A Morte e a criança depressa foram

Para a morada das coníferas!

III - O espinheiro

Confusa pelo caminho

Não sabia que percurso seguir

Deparou-se com um pálido espinheiro,

Murcho sem folhas e flores.

Intenso frio espalhava pelos ares

E a forte geada dimanava entre os ramos

A mãe da criança implorava ao espinheiro:

"Digais o caminho que a Morte passou!"

O Espinheiro, então lhe disse:

Só se aquecer-me junto de teu coração!

A mãe apertou-o contra o peito

E os espinhos penetraram-lhe à carne!

De gotas em gotas pingavam

O ralo sangue do peito da mãe

Reacendeu a vivacidade completa

Rebentando belas folhas e flores perfumadas!

O espinheiro cheio de vida

Grato pela ação ficou

Indicou-lhe o longo trajeto

A mãe ao grande lago correu!

IV - O lago

Não havia embarcação

Dificultando a travessia

A mulher teria que fazê-lo

Se quisesse encontrar o filho.

Sem lucidez, abaixou forçando o corpo

Para beber o lago de uma única vez!

O Lago disse: "Impossível o que tentais fazer!"

És louca! Venha que desafiar-te-ei!

"Coleciono belas pérolas

E os teus olhos encantaram-me!"

"Chorai até desfazê-los da face

E levar-te-ei à temida estufa da Morte!"

A mãe chorou, chorou e chorou!

Os olhos caíram no lago feito pérolas!

O lago compadecido movimentava-se

Sustentando e conduzindo a mulher ao vale!

V - A velha dos túmulos

A mulher caminhava totalmente cega

Perguntou forçando a voz:

"Digais, senhora! Por favor, digais!"

“Onde está a Morte com o meu filhinho?”

A velha dos túmulos surpresa perguntou:

Não posso acreditar no que vejo!

Como é que chegastes aqui?

Tu nem sequer podes me ver!

A mulher respondeu humildemente:

Foi Nosso Senhor que ajudará!!!

Pois Ele é justo e misericordioso!

E a velha que me fala, também o será!

A velha não soube falar

Nada sabia da criança ou da Morte

Mas disse para mulher reconhecer:

A batida do coração do pequenino.

A velha pediu em troca

Os cabelos negros da mulher

Se aceitasse, ajudaria encontrar.

Em tudo a mãe se sujeitou!

VI - Vale da Morte

Adentrou no Vale da Morte

Deparou com milhões de flores

Cada uma estava nomeada

Procurou a batida do coração do filho.

A velha presenciou a mulher

Sentir entre milhões o pequeno menino!

Estendeu a mão sobre o açafrãozinho

Azulado o pequenino e sem equilíbrio!

A velha alertou que não tocasse as flores.

Somente por autorização divina!

Sentiu um frio na estufa e logo percebeu

Era a presença da Morte alastrando frieza!

VII - A morte a mãe

Morte: Como chegastes no vale?

Mãe: Vou em qualquer lugar procurar a criança!

Com as mãos esticadas

Para a florzinha a morte ficou.

A mãe sustentou firmemente

Teus finos dedos em volta da mesma.

A morte soprou friamente as mãos da mãe!

Imediatamente caíram desfalecidas!

VIII - O destino

Mãe: Oh! Devolve meu pequenino!

Morte: Faço o que Deus permitir!

Mãe: Irei arrancar todas as flores do vale!

Morte: Não ouse tocá-las!

Morte: Infeliz és tu, mulher!

Morte: Queres arruinar outras mães?

Mãe: Não compreendo!

Mãe: Retirou as mãos das flores.

Morte: Toma os teus olhos!

Morte: Achei eles no Lago!

A mãe olha firmemente

Para o fundo do poço.

Morte: Vejais e contemplais!

Assim entenderás a consequência dos atos!

Podes ver realidades contrastantes:

Benção e alegria, dor e desgraça!

Morte: Ambas realidades,

Pertence a vontade de Deus!

Mãe: Me digais então:

Qual é a flor da desventura e ventura?

Morte: Oh! Vistes o futuro de teu rebento!

Mãe: Gritou - Qual era a flor?

Mãe: Gritou - Livra meu pequeno da desgraça!

Conduza-o para junto de Deus, por favor!

Morte: Não posso entender-te!

Queirais que o devolva? Ou que leve-o?

Mãe: Prostou-se e rogou a Deus!

Muda tonar-me-ei! Faça-se a vontade divina!

Mãe: Fitou o regaço embasbacada e chorou!

Ninguém jamais poderá entender

Tamanha dor que a sufocou!

Foi desfigurando o semblante!

A visão embaçada olhava

A Morte carregando o pequeno nos braços

Ela não tinha ação naquele momento

Para longe a morte foi e jamais retornou!

Lorena Borba
Enviado por Lorena Borba em 29/12/2019
Reeditado em 02/04/2020
Código do texto: T6829587
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.