Tá?

Eu sou aquele tipo de gente considerada uma idiota, uma total abobada, como se diz no popular. Aquela que qualquer um pode enganar. Mas sabe quem eu sou de verdade?

Sou aquela que consegue entender perfeitamente as músicas do Tom Jobim. Eu posso sentir cada nota dentro de um acorde e transferir isso para o sentimento de amar uma pessoa até o transbordar, através daquela música .

Eu também posso andar nas ruas de São Paulo, capital, construindo uma poesia na minha cabeça, que traduz a sensação da pele do joelho do senhor caído na calçada.

Eu também posso sentir a dor desgraçada de uma amiga que me diz que perdeu seu filho. E eu posso guardar dentro de mim, não em gavetas, mas em plenitude, o olhar de todas as pessoas que eu conheci, a maioria delas, eu amo para sempre. Eu tenho meu amigo morto em 2002 ressoando na minha mente. Minha amiga que não vejo desde 2004 chorando ao se despedir de mim para ir morar em Recife.

Eu tenho minha mãe fazendo beicinho quando eu oferecia um bolo pra ela e ela sorria e dizia: Julih, tá da pontinha esse bolo.

Eu sei o que meu amor me diz quando me toca e me olha naquele cantinho do olho muito de repente quando me acha bonita.

Eu sei que a testa quente do meu filho é início de algo pra observar. Ainda que esteja com o corpo frio. Eu sei que minha filha seca meu cabelo para estar perto de mim. E me chama de Ju para não se machucar. E quando levo algo bom pra eles comerem é quando eles se sentem mais amados, e eu que não gosto de cozinhar, capricho em alguma coisa para demonstrar que o amor é maior que isso.

Eu sei que minhas tias me amam por que aparecem quando eu mais preciso e consigo sentir seu jeitinho de me cuidar. E eu sei que o que o escritor escreveu tinha uma ideia muito maior do que o que ele poderia expressar. É meus primos me amam quando aparecem do nada para me dar a atualização das suas vidas que eu acompanho com todo amor.

Eu sei que as flores de amor perfeito querem nos demonstrar a natureza do amor.

Eu sei que cometi um grave erro por que uma vez não consegui ficar com um cachorro que precisava de mim. Me perdoa, amigo.

Eu sei que errei por que uma amiga que amo é bolsonarista e não posso mais compactuar com ela perto de mim por isso, mas a amo e o universo sabe disso.

Sei que a beleza não é isso que a mídia diz. E nem me atrai.

Sei que a pessoa que tentou me destruir no que eu tenho de mais sagrado fez isso por que não a poderia amar. Que em sua ignorância, essa pessoa achou que poderia comprar reciprocidade com poder. Não pode. Ainda mais comigo, o ser mais livre que conheço.

Sei que meus irmãos me amam quando estou no caos de minhas escolhas, que são tão difíceis, onde um vem pra me acolher e outro pra me apontar as falhas e me colocar no meu lugar bem específico de abobada. Mas ele ainda não sabe que sou uma abóboda e não, de fato, abobada. E , por isso mesmo, não posso parar . ( Aproveito o momento para pedir perdão por não ser capaz de enriquecer, juntar dinheiro e me tornar uma potência material. SINTO te decepcionar. Meu tempo está todo investido em amar. Sabemos, sou uma idiota que todos podem enganar.)

Ou não.

Eu sei que existimos pra além do que vemos e somos eternos em diversos níveis.

Eu sei que a melhor forma de organização social é a socialista. A perfeita seria a anarquista. Mas infelizmente não chegaremos a isso.

Sei que fazemos filhos e trabalhamos para deixar o mundo com sabor de frutos maduros para todos os nossos filhos dessas novas gerações por que nascemos para nos doar para o próximo.

Sei que cada conhecimento que temos a honra de receber serve ao todo e por isso, quanto mais conhecimento, mais responsabilidade.

Sei que cada mão estendida em minha direção significa a mão do que chamamos Deus, me alcançando. E para cada recebimento, mais responsabilidade com cada ser humano à minha volta.

E o que eu sei? Sou menos que o menor grão de areia , num planetinha de tantos desajustes, girando em torno de um minúsculo sol, num bracinho de uma galáxia pequena em meio a um universo em expansão do qual nada sabemos.

Mas sei que é uma honra da amplidão podermos estar juntos por algum momento nessa vastidão incompreensível. E incompreendemos justamente por que temos que saber que somos pequenos e só o que nos faz grandes é amar desmedidamente.

Posso olhar nos olhos de um mau caráter e destruir a arrogância dele com minhas palavras, por que sei como ele funciona. Eu posso ser infinita na minha burrice. Então, se você pensou que me roubou quando me tirou as coisas que me davam sobrevivência e se você achou que me destruiu quando me agrediu, você não sabe nada de mim.

O que me leva é muito maior do que o que você conhece.

Sigo sendo uma iludida, mas imensa, pela vida .

E o que me leva ninguém pode nem tocar. O que faz de mim, eu, é intocável e infinito.