DISCURSO DE POSSE DO PRESIDENTE
NA ACADEMIA PONTA-PEDRENSE DE LETRAS

Senhoras e Senhores, Ilustres Acadêmicos da APPL, recém-criada Academia Ponta-Pedrense de Letras, e demais presentes nesta cerimônia de fundação e posse.

Neste dia 27 de junho de 2020, na sede da AMAM, cidade de Ponta de Pedras/PA, inicia-se uma jornada ímpar no campo das Letras ponta-pedrenses, pois um grupo de cidadãos corajosos e com compromisso laboral diante da arte de escrever, principalmente, reuniu-se para formar e fundar a nossa Academia de Letras, cujas finalidades estão esclarecidas em seu Estatuto e Regimento Interno.

No ano de 2004, quando a professora Angelina da Costa Rodrigues, concluinte do curso de Letras, apoiada por seu professor Dr. Gunter Pressler, convidou-me para formarmos em Ponta de Pedras uma associação que viesse a estudar, propagar e festejar a obra de Dalcídio Jurandir - romancista da Amazônia -, nascido em Ponta de Pedras, senti-me feliz por perceber que eu não estava sozinho a ensinar a literatura e a língua materna como professor que sou – no âmbito de nosso município; conheci a literatura dalcidiana em 1994 quando encontrei a obra “Marajó” na Biblioteca pública Municipal desta cidade, sediada, na época, no Palácio Municipal: emprestei o livro para ler – essa história inspirou-me a escrever o conto “Quando encontrei Dalcídio”, publicado no livro Um poeta de Ponta, de minha autoria, pela editora Cejup,; deste conto/crônica, peço licença para a seguinte passagem: “Naquele início de anos 90, era leitor de razoável números de livros que conseguia emprestar... Nunca me dei conta de que lia autores nascidos de cidades de lá ou de cá. Apegava-me ao ato de ler, de conhecer as obras, de viajar nos mundos possíveis e impossíveis de maravilhosas histórias, intrigantes poemas...” Em 1995, deparei-me com umas coleções didáticas “Do texto ao contexto”, que continham literatura paraense para ser ensinada na escola – esta obra me incentivou a levar a nossa literatura para as salas de aula (no começo rústico, porém gratificante de minha formação e profissão). Em 1997, por meio de vestibular, entrei na UFPA para cursar Letras, e lá fui parabenizado por pertencer à “terra de Dalcídio Jurandir”, nas palavras da professora Drª Socorro Simões – fato este que também fomentou minha curiosidade e levou-me a pensar em formar um grupo de estudos literários (que veio mais tarde a se concretizar através da professora Angelina, do professor Gunter, da professora Luciene Tavares e demais professores convidados, quando da fundação da ASPEELPP-DJ. No momento de fundação, salientei que essa Associação seria o embrião para a futura Academia Ponta-Pedrense de Letras, e agora estamos aqui, concretizando aquelas falas. Nessa linha de pensamento, acredito ser nisto o que a ASPEELPP-DJ está agora se tornando (salvas as futuras decisões sobre a Associação)

De 2004 para cá, viemos discutindo, planejando, até que em 10 janeiro deste ano, por conta do Dia Municipal de Dalcídio Jurandir, reunimo-nos, Angelina, Samuel, Irineide e eu (sempre apoiados pelo professor Gunter Pressler – reconhecido e agraciado pela Câmara Municipal de Ponta de Pedras com o título de Ponta-pedrense por méritos na área da literatura e educação junto a UFPA). Já em março, delineamos a fundação da Academia em outra reunião – formando uma comissão de trabalhos e estudos acerca do que seria/é uma academia de letras. Estudamos Estatuto, Regimento e formatamos sua constituição e estrutura. E no Dia de Alfredo, 16 de junho deste ano, lançamos o projeto de fundação, agora com mais probidade e legitimação. Hoje estamos vendo a concretização de nossos anseios.

Dalcídio Jurandir é universal. Usando a metonímia: o nome está para toda a obra.” Esta frase inicia o estudo intitulado Do Marajó ao mundo. Uma introdução à leitura do segundo romance de Dalcídio Jurandir (Estudos comemorativos, org. Rosa Assis), do professor Dr. Gunter Pressler, também acadêmico desta honrosa entidade intelectual ponta-pedrense. Lembramos aqui que Dalcídio Jurandir recebeu o Prêmio Machado de Assis da ABL pelo conjunto de sua obra. Cito ainda do Prof. Gunter (agora do livro Amazônia, região universal e teatro do mundo, org. Willi Bolle e outros) a seguinte passagem do estudo O maior romancista da Amazônia – Dalcídio Jurandir – e o mundo do arquipélago de Marajó que diz: “Em 2003, fundaram-se a Associação dos Professores de Estudos literários (ASPELPP-DJ) na cidade natal do escritor, na Ilha de Marajó, e o Instituto Dalcídio Jurandir, no Rio de Janeiro.” Então, fica notória a escolha do nome para patrono de nossa academia: Dalcídio Jurandir. Por conseguinte, meus confrades, não se trata de cultuar o nome de uma pessoa, muito menos divinizá-la, conforme já ouvi de outrem que, sem o prêmio pecuniário, nunca sequer vi na doação de seus serviços para com a comunidade educacional deste município. O premiado escritor/romancista, poeta e jornalista do Norte carrega em sua biografia, discorre em sua obra, se gaba em suas cartas, enfim, do nome de sua cidade natal Ponta de Pedras, cidade esta muito por que é conhecida vem da empreita árdua de Dalcídio Jurandir em retratar a realidade marajoara e nortista com muita arte, compromisso, criticidade, reflexão, denúncia, mostrando que o homem, independentemente de região, pensa, sente, ama e sofre, vive – indiscutivelmente, qualidades inerentes aos seres humanos. Daí que justificamos aqui o aclamado e premiado escritor PATRONO DA APPL.

No que se refere à escolha dos acadêmicos, levamos em consideração uma média considerada como satisfatória para uma cidade de estimados 30 mil habitantes, de certa forma, seguindo o número da Câmara Municipal de Vereadores em 11 cadeiras, e no caso nosso, mais a cadeira número um, de Dalcídio Jurandir, totalizando 12 cadeiras cujos patronos seguem o nome de seus primeiros ocupantes de forma irrevogável. Estes nomes são pessoas, personalidades da comunidade ponta-pedrense que atuam junto à sociedade, num trabalho com as letras, com a educação, por meio de diversas atividades; somado a isso, em sua maioria, são associados da Aspeelpp-DJ, contendo, portanto, o aval de uma entidade renomada nos estudos críticos de nossas letras e eventos educacionais e/ou literários. São os acadêmicos que, seguidamente, aqui se apresentarão com suas considerações. A estes esteios da Academia se juntarão mais 5 acadêmicos de honra, por suas contribuições junto a autoridades, instituições gerais, e por terem declarada afinidade para com os objetivos desta Academia; e ainda mais 10 acadêmicos não efetivos correspondentes, a serem indicados gradativamente, e eleitos depois de minucioso estudo de suas qualidades junto à área da qual pertencemos.

Todos os anos são peculiares por algum motivo ou acontecimento. Quero destacar que este ano de 2020, em que fomos e somos acometidos por uma pandemia que nos tirou de nossas normalidades para uma reflexão mais profunda sobre o sentido da vida: Que tipo de vida? Quem são essas vidas? E nos solidarizamos com as pessoas que perderam seus parentes e amigos queridos; somos a consciência do universo que experiencia a existência de Deus.

Contudo, temos também nossas vitórias e através das somas de boas realizações preenchemos o mundo com soluções mais simples e felizes: como exemplo, a conquista do meu ex-aluno, agora confrade Marcos Samuel, vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir 2020, na categoria romance – premiação esta agora gerenciada pela Imprensa Oficial do Estado; mais um ganho para nossa Academia, e temos certeza que muito ainda se há de fazer pelas letras de nosso município, quiçá de nosso Estado, da Região Norte (ainda estigmatizada pelo chamado cânone intelectual do país). Peço licença novamente para o introito do romance Dentro de um peixe, de Marcos Samuel, que levanta a seguinte metáfora: “O tempo é uma folha que sangra, alinhavando manhãs no reflexo da vida”. Mudanças virão! O século XXI recomenda o ciclo natural das coisas, muitas em respostas a nossas intervenções...; mas nós, seres humanos iluminados, prometemos lutarmos contra qualquer tipo de maldade, de discriminação e menosprezo para conosco, com os animais, com a natureza e com nosso até então imprescindível planeta (que pede socorro). Talvez seja bíblica a máxima “Quem tiver ouvidos e olhos, que ouçam e vejam!” – salvo engano – complementando com este trecho de Carlos Drummond:
 
“Que importa este lugar / se todo lugar / é ponto de ver e não de ser.”
 
Que fique dessas máximas, salva toda e qualquer interpretação outra possível, a grande importância de se ver e, por ser, pertencer.

Inicialmente, como Diretoria, comprometo-me ao Registro em Cartório de nossa Academia de Letras; depois, a confecção de Diplomas para os ilustres acadêmicos; faremos uma discussão ainda este ano sobre o Brasão Oficial da Academia; constituiremos um blog que servirá inicialmente como site da Academia – até que no futuro possamos arcar com um Sítio Oficial na Web.

Conclamo a todos os Acadêmicos considerarmos e facilitarmos para com o bom andamento de nossos trabalhos, mantendo-nos harmônicos e respeitosos para com as autoridades constituídas, colaborando em todas as ações para a qual formos solicitados junto a esta Academia. A casa simbólica de Dalcídio Jurandir futuramente se desdobrará na concretude de uma sede para nossa Academia, conforme nossos esforços e de membros futuros, continuidade do zelo desta Academia. Tomaremos uma postura de Acadêmicos partindo do tradicional modo de uma instituição que preza pela solenidade à implementação de uma moderna posição junto à sociedade ponta-pedrense.

Propagando a fé e acreditando no nosso presente e num futuro promissor é que me proponho a escrever, juntamente com os Ilustres Confrades, a história da Academia Ponta-Pedrense de Letras – APPL.

Agradecido de coração.
 
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Acadêmico Jonas Furtado da Silva
Presidente

 
Ponta de Pedras – PA
2020