ANTIRRACIONAL

Convenhamos, que tempos complicados estamos vivendo. Vivemos uma crise sanitária, uma crise econômica, uma crise política, mas o pior de tudo: vivemos uma crise de racionalidade, em algum ponto de nossa ordem cronológica perdemos nossa razão.

Neste pequeno texto não conseguirei abordar toda a temática que desejaria, e que seria essencial para o momento, nesta pandemia já temos inumeráveis mortes causadas pela COVID 19 (https://inumeraveis.com.br/), muitas delas ocasionadas pela falta de condições de tratamento, pela falta de leitos de UTI, ou seja, pela precariedade que vive a população mais carente de nosso País.

Não bastasse tal elemento catastrófico, nossa geração lida ainda com diversos outros flagelos, e aqui cabe um debate de extrema relevância, pois um desses elementos que absorvem a cognição de nossa sociedade é o racismo, sim, é necessário opinar sobre isso, é necessário levantar a mão e gritar: sou antirracista!

Gritar essa expressão não é uma busca por protagonismo, o que nem cabe a um homem branco, mas é um sinal de solidariedade, de humanidade, mas além de tudo isso, é um sinal de racionalidade. Afinal, no ano de 2020 ainda deveríamos debater tal conceito? É mesmo necessário relembrar que devemos ser tratados com igualdade, sem distinção de sexo, raça, credo, enfim...

Aos prantos, um cara sábio diria: ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar. Nelson Mandela sabia das coisas.

Meus amigos, vidas devem ser resguardadas e respeitadas, Trayvon Martin, George Floyd, Marielle, são diversas as vidas que deveriam ser resguardas, mas pela simples falta de racionalidade, foram ceifadas precocemente.

Vejamos coisas que acontecem no Brasil de 2020, um homem pardo, influente no seu meio, em pleno terreno arenoso da internet, bebendo um copo de leite, antigo símbolo que remete à supremacia branca. 300 do Brasil, aglomerado baseado no fanatismo que conta com uma mulher que luta sob a égide de um movimento que abomina o direito das “MINA”. Sim, parece loucura, mas de forma triste eu digo que é nossa realidade.

E por qual motivo devemos observar a relação diabólica entre os assuntos que tomaram conta do País e do mundo nos últimos dias, a revista Galileu auxilia um pouco neste debate:

Por aqui, 75% dos mais pobres são negros, segundo um levantamento realizado em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou como pretos e pardos trabalham, estudam e recebem menos que os brancos no país.

Os dados são desanimadores: uma análise da Agência Pública mostrou que há uma morte para cada três brasileiros negros hospitalizados por Covid-19, enquanto entre brancos a proporção é de uma morte a cada 4,4 internações. Em São Paulo, cidade com o maior número de casos, bairros com maior concentração de negros têm mais óbitos pela doença. Dos dez com o maior número absoluto de mortes por coronavírus, oito têm mais negros que a média municipal.

Um estudo liderado por pesquisadores da PUC-Rio e divulgado no último dia 27 de maio evidencia ainda mais essas disparidades. Em termos de óbitos por Covid-19, pessoas sem escolaridade têm taxas três vezes maiores (71,3%) em relação àqueles com nível superior (22,5%). Combinando raça e índice de escolaridade, o cenário fica ainda mais desigual: pretos e part

dos sem escolaridade morrem quatro vezes mais pelo novo coronavírus do que brancos com nível superior (80,35% contra 19,65%). Considerando a mesma faixa de escolaridade, pretos e pardos apresentam proporção de óbitos 37% maior, em média, do que brancos. (https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2020/05/na-pandemia-de-covid-19-negros-morrem-mais-do-que-brancos-por-que.html)

Sou um homem branco, vim da periferia, mas mesmo assim não tenho o lugar de fala da maioria das pessoas que sofrem com os abusos e supressões dos desgovernos mundiais, porém posso de maneira coerente auxiliar no combate ao modelo de sociedade irracional, ao combate do modelo social que limita a vida humana, é necessário refletir e repensarmos nossas atitudes frente ao que vem acontecendo no mundo, no nosso País, no nosso bairro, na nossa rua.

Falei aqui de forma breve sobre desastres que afligem alguns grupos, alguns seres humanos, alguns irmãos que compartilham a vida na terra conosco, existem ainda inúmeros problemas sociais que exigem atenção imediata. Vamos lá, que possamos deixar ideologias e demagogias de lado, que possamos um dia debater e buscar soluções (ainda que tardiamente), mas que sejam efetivas.

Desejo, do fundo da minha alma, que um dia um sonho antigo possa se concretizar de forma integral, um sonho que pedia algo tão simples, pedia que vivêssemos como irmãos de uma mesma espécie.

“Eu tenho um sonho: o de que, um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos senhores de escravos poderão se sentar juntos à mesa da fraternidade”, Martin Luther King.

Por fim, não deixe o seu silêncio ser a voz daqueles que aprisionam outras vidas.

Ânderson Gonçalves Vasconcelos
Enviado por Ânderson Gonçalves Vasconcelos em 01/06/2020
Reeditado em 03/06/2020
Código do texto: T6965027
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