Diário de Bordo (Cuidado: Madeira!!!))
Diário de Bordo (Cuidado, madeira!!!)
Fui premiado, logo ao amanhecer do sábado, com um nascer do Sol espetacular! Foi um desses nascentes de tirar o fôlego, e de me por a correr para preparar a minha câmera e sair fotografando como um desvairado, um marmanjo apaixonado e inconsequente.
Pois muito que bem.
Após me recuperar dos efeitos desta orgia com o Deus Apollo, que me levou a devorar voluptuosamente uma gigantesca manga, e deixar que o suco dessa fruta sedutora me deixasse toda a cara lambuzada, fui engatando em seguida um copo de chocolate, dando início ao meu café da manhã, a refeição mais substancial que gosto de fazer.
Pasmem, ladies and gentlemen! Eu consegui heroicamente me desvencilhar dos braços libidinosos, e do olhar mortalmente cativante da rainha Tixa I, cheia de más intenções para comigo, e fui tomar o meu sagrado banho matinal no Cururupe, subindo de volta para a minha tenda, vestindo bermuda e camiseta, e, como um Cesar Tupinambá atravessei o meu Rubicão, indo devidamente até a bodega do Curuja.
Chegado na aprazível Fazenda aonde o esperto Curuja tem a sua bodega, comprei farinha de mandioca, surrupei uma boa quantidade de pimenta-de-cheiro, e pus os meus aparelhos celulares para carregar .
Ali, na bodega do Curuja, eu fico super á vontade: navego nas ondas da internet, troco um dedo de prosa com um, vejo os pequenos brincando de pega-pega, e assisto as pantomimas atrapalhadas de um eventual bêbado incidental enquanto os meus equilíbrios eletrônicos são reabastecido.
(...)
Com a chegada do Outono aqui no Reino de Pasárgada os dias começam a ficar com a temperatura bem mais amena, favorecidos pela chuva que este ano vem molhando generosamente o ventre da mãe Terra. E, como também a noite cai mais rapidamente sobre as nossas cabeças, faltando quinze minutos para as caindo da tarde, juntei as minhas tralhas dentro da minha mochila e rumei de volta para o acolhimento da Cururupitanga.
Após passar pela trilha, já cambiando para o escuro, da mata que cerca a minha propriedade, atravessei a ponte de troncos sobre o Cururupe, subi a ladeira que me conduz até onde fica a tenda é a cabana, e me desfiz das coisas que trazia na mochila.
Como num filme de Hitchcock, quase cai estatelado no macio solo arenoso que delimita o espaço entre minha cabana e a tenda: duas gigantescas árvores, caídas, abraçadas como amantes num orgasmo pleno, estavam a impedir a minha passagem.
Demorei uns três intermináveis minutos a contemplar aquele espetáculo, a um só tempo atraente e aterrador, das duas árvores abatidas a menos de três metros de distância de minha tenda, derrubadas pela força dos ventos como se fossem varetas de um jogo de I Ching.
Assim que sai de minha estupefação entoei dois mantras de agradecimento, um para Khrishna e o outro para Shywa, pois malgrado o meu impenitente agnosticismo, reconheço a eficaz proteção que dessas divindades eu recebo.
(...)
Veio uma noite chuvosa, esta manhã também amanheceu com os céus a despejar chuva a cântaros, e aqui estou eu a relatar mais um dia vivido nessas terras encantadas do reino de Pasárgada.
Terras de Olivença, manhã de um domingo chuvoso, (com o mês já embicando para o seu final) Abril de 2020.
João Bosco