Quem roubou quem?

Quem roubou quem? Foi Tu quem roubou meu coração de mim ou fui eu quem roubou meu coração de Ti já que Tu o criastes? Fizestes meu coração tão pequeno que nada nele cabe além de Ti (o doce mistério de só caber Aquele que é infinito), e se tento colocar outras coisas dentro, sinto um aperto que o machuca, como se elas não devessem estar lá... E quantas coisas coloquei que não deviam ser postas... acho que fui eu quem roubou meu coração de Ti, pois hoje vejo que Ele sempre te pertenceu, mas não percebi na minha inquietude já que estava longe do seu legítimo dono e com isso sofria. Ele pulsava o tempo todo com cada batida gritando pelo Seu nome, como criança que chora pela mãe já que não sabe falar, mas eu não entendia esse choro.

Na ilha da minha vontade ancorei o coração, e lá me vi rodeado pelo mar por todos os lados, o mar da Sua vontade, de modo que para onde quer que eu fosse na ilha sempre avistava o Seu querer. Na ilha eu tinha livre arbítrio para fazer o que quisesse, mas somente no mar tinha liberdade para ir aos lugares mais longínquos, o desbravando e mergulhando nele... Não pude suportar viver na ilha, o mar me chamava.

Tentei roubar meu coração de Ti, mas fui vencido, não o posso obrigar a amar outra coisa se és Tu quem ele deseja. Busquei ardentemente fazer somente o que queria, e agora vejo que somente Tu és o ardor do meu querer. Eu pensei que o coração amava a paixão e a ela o entreguei várias vezes, mas na verdade ele estava apaixonado desde sempre pelo Amor. Toma aquilo que é Seu por direito, "faz dessa pedra bruta um retrato Teu!".