UM DIA FOMOS INVADIDOS
Pelos mares um dia eles chegaram.
Irmãos desumanos, homens barbados, pela profecia eram esperados.
Chegou a voz do monarca, imponente, todo arriado, dizendo que Deus tinha chegado
e nós abrimos as portas, ingênuos e talvez por temor ignorado.
Foram muitas as maldades, os sofrimentos, eles foram demônios de boas mãos
e com punhos cobertos de panos e retratados de metais.
Sabe-se lá quantos o quanto levaram a custo de resistências
e sangue derramados. E eles não tiveram nada de vergonha, nem piedade e sem escrúpulos.
Era pelos deuses demônios que eles representavam em suas atitudes.
Com todo o ouro roubado fizeram toda a festa, toda bonança, toda lambança
e quando nos demos conta, tudo, mas tudo estava acabado!
Nesse horror, um inferno preparado, entregamos a grandeza do passado,
nesse terror ficamos quase quatrocentos anos escravos.
E se não queremos malefícios e nem brindar a lei estrangeira,
finquemos os nossos pés na nossa crença,
na nossa cultura, no nosso pão, nos nossos costumes, nas nossas rezas e no nosso dinheiro.
Seguimos caminhando por tantas pontes, precipícios, por tantos delírios,
em cima de tantas riquezas e ficamos com os desterros sombrios.
Olha, em pleno século vinte e um, ainda há gente querendo seguir
esse mesmo rumo e nós ainda abrimos as nossas casas, convidando-os para entrar
e os chamamos de amigos.
Parece que não se sentem cansados, os índios nas serras,
os negros nas favelas, os brancos nas serras e favelas,
negros, índios, estrangeiros e pobres nas serras, terras e favelas.
Enfim, estrangeiros em suas próprias terras!
E você, hipócrita, que se sente e se mostra como humilde estrangeiro,
mas no fundo é um soberbo, como todos os outros irmãos do povo,
saiba que vai sofrer nas mesmas trincheiras dos monarcas hoje engomados.
É a maldição da Belíndia, uma enfermidade presente
quando a terra é declarada para todos,
quando se diz que vai libertar minha gente,
mas logo penso: Quanta hipocrisia!
Diz a verdade de fato
e faça o que os homens Barbados não fizeram.
Seja a mudança da história nesse continente sofrido!
É isso aí!
Acácio Nunes