Existencialismo

"Do alto da arrogância qualquer homem

Se imagina muito mais do que consegue ser

É que vendo lá de cima, a ilusão que lhe domina

Diz que pode muito antes de querer

Querer não é questão, não justifica o fim

Pra quê complicação, é simples assim"

Considerando essa arrogância, podemos abstrair que ela deve ter uma causa, visto que também somos animais e o restante das outras espécies agem diferentemente de nós. Suponho que esse efeito pesporrente advenha da nossa capacidade de racionalizar o mundo e tudo mais que derive de nossa existência em quanto tais. E este, como diria Spinoza, atributo racional ao qual dispomos gera-nos essa sensação de vazio, visto que não somos reféns de nossos instintos, e por possuírmos a capacidade de deliberar sobre nossa condição de existência, somos enfim, seres não acabados; isto é, um Ser que não possui, ao menos aparentemente, objetivo de existência para além do biológico, que seria a perpetuação da espécie; ao passo que buscamos um significado racional para a nossa fugaz existência. Às vezes sinto que sempre queremos racionalizar tudo e com isso nos agunstiamos ainda mais, já que ao não conseguirmos, ficamos desolados com nós mesmos, contribuindo ainda mais para o asco que nos assola.

Shopenhauer, no livro as dores do mundo, diz que a angústia sempre nos acompanhará, visto que, de acordo com ele, somos seres movidos pela vontade, e esta é o que nos impulsiona a realizar nossos desejos. E por sermos desejantes, somos faltosos, uma vez que o desejo é a vontade de termos o que não temos; ao termos, deixa de ser desejo, pois é concretizado o desejo. Desta pespectiva, coloca-se o paradigma de que estamos sempre em busca de algo, ou seja, angustiados. E tais angústias, nos termos marxistas, são do âmbito superestrutural, que se trata do plano das idéias/consciência das pessoas e que, dialeticamente, influem na infraestrutura, que é o plano material da existência. Marx diz que o trabalho molda a consciência e a consciência molda o trabalho, dialeticamente. E tais transformações vão gerando os regimes históricos com todas as suas verdades e acepções acerca do mundo, que refletem diretamente na consciência dos sujeitos históricos. Com efeito, movidos por essa inquietude de espírito/intelecto, e possibilitada pela construção desses ditos regimes históricos, criamos nossa ciência, que é uma forma de explicar o mundo. Se me lembro bem, Weber vai nos dizer que com o "desencantamento do mundo", que é a passagem de um estado de compreensão do mundo teológica/mística para uma explicação mais voltada aos trâmites da racionalidade (mudança de regime histórico), o ser humano acaba por erigir uma nova ferramenta de explicação do real, desta vez voltada ao âmbito sensível; a ciência.

E todas as escolásticas que daí advém, mesmo com uma gama de explicações racionais muito competentes sobre a existência e sobre o mundo, não dão conta de calar o vazio que tanto se faz ouvir dentro de nós. Cada qual com seus gritos e clamores que, mesmo entre outras pessoas, são como ruídos mudos, ou talvez as pessoas na pós-modernidade tenham perdido a sensível sensibilidade do ouvir.

Mais uma vez a dialética se faz preponderante entre nós. A ciência nos mostrou que somos muito ínfimos em relação ao universo, e ao mesmo tempo exacerbou o antropocentrismo. Conquanto, não nos tirou nossas faculdades deliberativas, pois ao termos consciência de nossa condição no universo e no planeta Terra, podemos escolher a vida que queremos levar; seja uma de arrogância possibilitada pela inteligência, que como diria o artista Criolo Doido, atrai vaidade. Ou podemos nos colocar em um estigma de humildade e nos despojarmos dessa vaidade que, acredito eu, seja deletéria a uma vivência no mínimo harmônica. Fácil falar, certamente difícil fazer. No entanto, como dizem, para que o mal vença é preciso apenas que os bons não façam nada. Se o mundo é mal, tentemos ser menos maus. As condições da vida por vezes nos parecem cruéis, novamente no entanto, nós não precisamos ser cruéis também. Tampouco tempos a obrigação de salvar o mundo, mas ao menos que nossas mãos deixemos limpas. Tantas pessoas "perdidas" de si mesmas por aí, sem dúvida não precisamos encontra-las, só que ao menos podemos encontrar a nós mesmos e com isso servirmos de exemplo, pois vejo que cada atitude nossa é um espelho pro Outro; amor gera amor, ódio gera ódio. Apenas não se engane com fórmulas prontas que prometam a você descobrir qual e como é a vida boa a ser vivida. Tantos já buscaram dizer qual é, desde o epicurismo com sua fórmula de vida simples entre amigos até a atual vida de consumo, onde busca-se a vida boa através de cápsulas, a fim de suprimir as tristezas e viver uma constante felicidade, e alocação de coisas. Para todos estes que possuem sede de fútil, ofereço um copo vazio.

A despeito da construção de sujeitos em massa, é possível, acredito eu, superar essa condição de rebanho. Como se libertar dessas amarras não tenho como dizer, afinal não acredito em fórmulas que instrumentalizam a vida e que se seguidos todos os 450 passos, funcionará.

As tristezas já existem no mundo, não é necessário cria-las. E é justamente a partir delas que se justifica criar momentos belos. Apesar de todas essas tristezas já existentes, creio ser possível momentaneamente vencer as tristezas e angústias do mundo que nos assolam e criar a própria felicidade, pois apesar de uma triste existência, ela não precisa ser feia.

Tudo isso, é porque não me sinto satisfeito em sentir o que sinto se o que sinto fica só no meio peito.

"A felicidade só é real quando compartilhada"