MUDO BRADO RETUMBANTE
Tanto tempo já passou desde o seu achamento
Quando matas vestiam a terra nova
E os povos nativos não conheciam a sua grandeza
Tudo era o que deveria ser
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
Quantos vieram de fora e a tomaram por sua
Sem ao menos agradecer a dádiva
Varreram da terra a inútil natureza
Trouxeram a sujeira da mente além-mar
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
Teve início uma guerra de vaidades
Uma busca por tesouros ideais
Eliminação de estorvos humanos
Adição de (in)consciente crueldade humana
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
Como se deuses fossem
Puniram gentes trazidas de longínquas paragens
Pouparam a terra do rançoso suor patriarcal
Sem mistura de cores, brancos sobre pretos
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
A realeza partiu num repente
Deixando um povo indiferente
À mercê de ávidos patrícios
Numa mistura de cafés, leites e armas
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
A partilha da pilhagem civil
Fez-se vezeira na Capital e nos confins
A receita sovada a muitas mãos
Cresceu o bolo de propina fresca
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
O progresso forjou um avanço
Maquinou-se o salto em atrevida distância
A asfixia do social e comum pensamento
Apagou a chama de redentora liberdade
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
Armaram o vazio com o poderio da Junta
A culta resistência sucumbiu à força
Restou um legado de perseverança
Aliado ao temor de recair em tal sorte
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
Novo ânimo pairou sobre frontes cansadas
Mil palavras para esquecer o silêncio
O triunfo transformado em pilhéria
Notas soterradas em cuecas e contas do além
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
O usual silêncio dos surrupiados
Levou à perfeição do método ardil
Chamou a atenção de mercenários distantes
Uniram-se todos em prol de interesses e ganância
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
Em chance ansiada de renovação
O povo ocupou o pódio por si e para si
Metade espera que o trabalho valha a pena
Metade não se dá o trabalho de acreditar
Quisera as coisas não estivessem assim
O brado retumbante em bocas caladas
Por mais que se pintem caras e bocas
Por mais que se marchem por moedas e centavos
Por mais que se batam panelas e cabeças
Habitamos um país de jeitos, farsas e emendas