Meu filho:

Naquela noite teu pai tava no Beira-rio. Foram anos de espera longa e dolorosa. Foram noites sem dormir, foram decepções, foram lágrimas de tristeza e foram muitos "quases". Não poderíamos mais ser vice. O única coisa que consagraria nossa forte esquadra colorada era um título Inernacional. A pressão era grande emcima do passado do técnico Abel. A exigência era grande frente aos jogadores colorados. A torcida já não aguentava mais segurar o grito de campeão da América na garganta!

Eramos mais de 50,000 aquela noite. Era uma noite muito fria na capital Gaúcha. Por volta dos 10 graus e uma chuva fininha que vezes apertava vezes garoava. Eu estava lá naquele estádio com essa bandeira do Rio Grande do Sul enrolada a volta do pescoço como uma capa. A camisa que eu estava naquela noite e que guardo até hoje, eu comprei no dia do primeiro jogo na Libertadores 2006, mas não usei. Eu decidi que só usaria na grande final. E com esta mesma roupa eu estava quando fui pra São Paulo numa guerra Farroupilha, trazer pra casa este resultado favorável. Teu vô disse que a vitória seria conquistada lá no Morumbi, e de lá do Morumbi eu falei através da rádio Gaúcha com o teu avô, que estava em Pinhal.

No Beira-rio foi outra guerra, pois o adversário teimava em não cair na peleia. O São Paulo era o atual campeão do mundo, líder do brasileiro, o time a ser batido. O jogo foi como tinha que ser, sofrido, mas o papai tava lá, cantando, apoiando, empurrando como sempre. E, meu filhote, nós saímos campeões da América! De repente, foi uma fumaceira incrível de fogos, foram dezenas de minutos de foguetório e, para todos os lados que eu olhava, eu vía pessoas chorando, se abraçando, comemorando. Num instante a cidade de Porto Alegre estava tomada. Todos os prédios apresentavam bandeiras vermelhas, os carros e motos também. Todos os colorados saiam de camisa do Inter nas ruas nos dias que se seguiram e todos os jornais do MUNDO falavam da incrível conquista do Colorado Gaúcho.

Foi incrível. Foi sensacional. Foi o dia mais inesquecível da minha vida. E se o teu avô viu o time de Falcão, Valdomiro, Caçapava, Don Elias Figueroa, Carpegianni, conquistar títulos importantes, ele também estava aqui para ver o time de Fernandão, Rafael Sóbis, Abel Braga, Tinga, Alex, Bolivar, Clêmer, Perdigão, conquistar o mais importante de todos até aqueles 97 anos. O deboche havia acabado, filho. Nós eramos Internacionais! Éramos campeões da América! À partir daí tudo seria diferente. Quando falassem novamente o nome do Sport Club Internacional, qualquer um, em qualquer continente, teria que morder a língua e, ao sentir o gosto do sangue vermelho, saberia que estava falando de um dos maiores clubes de futebol do planeta.

Tá aqui filho! A camisa é essa, a cor é essa, o estádio é esse, os títulos são esses. Esse é o nosso time filho, o Colorado Internacional, teu e do pai. Essa estrela aqui é da Libertadores de 2006 que teu pai foi buscar pra ti. E quando tu estiver usando essa camiseta eu quero que tu lute, torça e grite com a mesma garra que teu pai teve pra chegar até aqui. Nós nascemos Colorados e vamos morrer assim. Enquanto não morremos, vamos seguir lutando, pois a guerra não acabou e nunca está morto quem luta e quem peleia.

Fábio Grehs - 18 de Agosto de 2006.

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Publicado em 18/08/2006

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Fábio Grehs
Enviado por Fábio Grehs em 18/06/2007
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