ARTIGO, NA ÍNTEGRA, PUBLICADO NA REVISTA VIRTUAL GLÁUKS: Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e Sebastião Bemfica Milagre

Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de

Edgar Allan Poe e Sebastião Bemfica Milagre

The Intertextual Dialogue between the Poetic Drive of

Edgar Allan Poe and Sebastião Bemfica Milagre

José João Bosco Pereira

1

Maria Ângela de Araújo Resende

2

RESUMO: O presente trabalho propõe uma leitura intertextual

de “The Raven” e “Annabel Lee”, de Edgar A. Poe (1845 e

1849), e Gritos, obra poética de Sebastião Bemfica Milagre

(1972). A análise está centralizada na concepção de pulsão em

Freud como o instinto de morte e libido. Os poetas estão

distantes no tempo e no espaço. A produção de Poe marcou o

fim do século XIX e a de Milagre, o fim do século XX. Essa

problematização aparece como uma ruptura (vida/morte) no

tema da amada. No contexto da poética moderna, ambos se

valem de experiências líricas e experimentações na e pela

linguagem. Esse formato não esgota a possibilidade de

contextualizações temporal e espacial. Assim, a pulsão é

projetada na literatura universal e local, que abrange os modos

de imaginação. Eros e Thanatos estabelecem os pontos de

aproximação e de distância entre os modos de representação da

1

Mestre em Teoria da Literatura e Crítica da Cultura pelo Programa de PósGraduação em Letras (PROMEL) da Universidade Federal de São João Del-Rei

(UFSJ).

2

Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Professora Adjunta III da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ). 270 Gláuks

morte. Ao distinguir esses pontos, a literatura é concebida de

diferentes culturas.

PALAVRAS-CHAVE: Poética da modernidade. Lirismo.

Tradição. Pulsão.

lírica de Edgar Allan Poe em Sebastião Bemfica

Milagre, objeto da Poesia Moderna em diálogo com

a Psicanálise, nos remete aos estudos da linguagem e da

representação. Ambos estão imbuídos da sutilidade e

versatilidade “de experiências poéticas e experimentações com e

na linguagem que marcaram o fim do século XIX, [que] sinaliza

uma tradição que não se esgota em marcos temporais e

espaciais”, conforme a síntese de Resende (2010)

3

Por escolha

metodológica, o direcionamento é centrado na força de temas

recorrentes, segundo os quais se busca a interface de escrituras e

até de diferentes épocas. As metáforas nos sugerem a morbidez e

o idílio fúnebre de imagens. Imagens típicas da Psicanálise.

Gritos, de Milagre (1972), e “The Raven” e “Annabel Lee”, de

Edgar A. Poe que aparecem em sua Antologia de contos (1959);

em Histórias extraordinárias (2005), retomando a tradução de

Clarice Lispector; em Poemas e ensaios (1999) e Poesia e prosa:

obras escolhidas (1990), são verso-anverso de experiências

estéticas não isoladas da cultura. Nesse sentido, a poesia tece o

jogo de signos. Nada é gratuito. Em Poe e Milagre, pinçam-se os

aspectos das mimeses que têm pulsão lírica como caudal híbrido

de camadas da psique e da cultura. Assim, os poemas acima

citados de ambos os autores não se fecham em si, abrem-se para

um novo olhar, uma análise comparativa e transdisciplinar. Tais

3

O presente artigo foi elaborado a partir dos estudos realizados na disciplina “A

crítica literária do Século XX”, ministrada pela Profª Dra. Maria Ângela de Araújo

Resende, no primeiro semestre de 2010, na UFSJ.

ADiálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 271

poemas se aproximam quando se procede a uma análise

intertextual à luz da Psicanálise e da Tradição Poética.

1 Psicanálise e a lírica: diferenças entre Poe e Milagre

A conceituação de Eros e Thanatos, em A morte em

Veneza, parte de uma elaboração de conceitos cuja síntese é

como impulso artístico do escritor, explicitado no prólogo de

Thomas Mann (1944)

4

. Nesse contexto, o diálogo de Fedro com

Sócrates (MANN, 1944, p. 175-177) situa a pulsão na narrativa

dessa obra. Analogicamente, a representação lírica flui nas obras

de Poe e Milagre. Essa pulsão é, emblematicamente, situada

ainda em T. Mann (1944), quando infere as temáticas possíveis

da pulsão lírica: “A beleza [...] é o caminho da sensualidade;

perigos deliciosos; cheia de culpa. O poeta não poderá seguir a

via da beleza sem que Eros seja guia [...]. Devemos aspirar ao

amor, nosso prazer e vergonha. Somos dissolutos e aventureiros

da emoção. Nossa gloria é farsa.” (MANN, 1944, p. 178, grifo

nosso). Também, Molloy (2003) aborda as diferentes narrativas

para evitar a redução da narrativa à escrita de si apenas. Embora

reconheça a autobiografia, Molloy vê que a hibridez nos remete

à poética como o alcance social e a constitutividade textual. O

que se questiona são as relações de poder entre a escritura em

seu contexto de produção. Molloy (2003) apresenta a relação

entre inconsciente e formas culturais de manifestação literária:

“Ao considerar a mediação narrativa [...], um fragmento, um

rastro, armazenado na memória que guia a inscrição do sujeito

[...] nas ‘formas culturais’ [...], os escritores recorrem ao arquivo

4

É mesmo um dos traços da obra: o parentesco com as teorias de Freud. [...] uma

ilustração da libido com o impulso artístico: a luta entre a austeridade do artista e o

impulso erótico, o processo de regressão onde [aparece] o mar, o simbolismo erótico

do sonho, as aberrações do desejo, associadas com a infecção orgânica, o desejo da

morte, enfim, os conceitos fundamentais da psicanálise [como] nesta representação

de uma sombria e estranha aventura. (MANN, 1944, p. 7-11, grifo nosso). 272 Gláuks

europeu em busca de fragmentos textuais com os quais,

(in)conscientemente forjam imagens.” (MOLLOY, 2003, p. 19).

Como Molloy, Ramos (2008) entende as imagens de desencanto

do mundo (aludindo-se a Max Weber

5

, que concebe a

racionalidade e a secularização versus o desprestígio da

tradição) na melancolia lírica, no contexto de profissionalização,

na crise da modernidade e na divisão do trabalho intelectual.

Assim, o escritor se torna um exilado na Polis e o guerreiro

solitário no “bisturi do dissecador” (RAMOS, 2008, p.16)

positivista. Para sobreviver, o escritor tem que se tornar um

“sujeito orgânico” (Idem, p. 20), politizado, capaz de articular

“as tensões entre as exigências da vida pública e as pulsões da

literatura moderna” (Idem, p. 21).

2 Contextualização da vida e obra de Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe foi filho de casal de atores de teatro

6

,

nasceu em 19 de janeiro de 1809, em Boston. Morreu em

Baltimore, aos sete de outubro de 1849, como poeta, romancista,

crítico literário e editor estado-unidense. Ao morar com a Tia

5

Na famosa conferência “A ciência como vocação”, pronunciada em sete de

novembro de 1917, em Munique, o pensador entendeu que a ciência era um dos

fatores fundamentais do processo de desencantamento do mundo. Weber especifica

essa atitude moderna dizendo: “O destino de nosso tempo, que se caracteriza pela

racionalização, pela intelectualização e, sobretudo, pelo ‘desencantamento do

mundo’, levou os homens a banirem da vida pública os valores supremos e mais

sublimes. [...] A quem não é capaz de suportar virilmente esse destino de nossa

época, só cabe dar o conselho seguinte: volta em silêncio, sem dar a teu gesto

a publicidade habitual dos renegados, com simplicidade e recolhimento, aos braços

abertos e cheios de misericórdia das velhas Igrejas. Elas não tornarão penoso o

retorno. De uma ou de outra maneira, quem retorna será inevitavelmente compelido

a fazer o ‘sacrifício do intelecto’.”

6

Filho de um casal de atores, da atriz inglesa, Elizabeth Arnold, com David Poe, seu

pai. Órfão aos dois anos e logo depois adotado por John Allan, rico comerciante de

Richmond, Virgínia. Entre 1815 e 1820, recebeu esmerada educação clássica na

Escócia e Inglaterra. (Síntese de Antonio Paiva Rodrigues (2007). Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 273

Allan em Baltimore, dedica-se ao jornalismo em Filadélfia e

Nova York. Ele fundou sua tipografia

7

depois de conflitos com

os editores e seu padrasto. Sua paixão pela literatura o inquietara

a ponto de ter uma dedicação compulsiva

8

como gênio

instigante. Com sua própria tipografia, Poe foi publicando os

poemas: “The Raven”, “Annabel Lee”, “Leonore”, dentre

outros. Com 36 anos de idade, Poe (2007) escreveu: “Corvo”

9

e

“Annabel Lee”. Segundo alguns críticos, a versatilidade em Poe

garantiu seu sucesso editorial e a valorização da posteridade.

Elaborou uma poética sui generis quanto ao estilo e à questão da

morte.

10

7

Poe mudou-se, em seguida, para Baltimore, para a casa da sua tia viúva, Maria

Clemm, e da sua filha, Virgínia Clemm. Durante essa época, Poe usou a escrita de

ficção como meio de subsistência e, no final de 1835, tornou-se editor do jornal

Sothern Literary Messenger, em Richmond, tendo trabalhado nessa posição até

1837. Nesse intervalo de tempo, Poe acabaria por casar, em segredo, com a sua

prima Virgínia, de treze anos, em 1836. Dados disponíveis em Poe (2010).

8

Em 1837, Edgar A. Poe mudou-se para Nova Iorque, onde passaria quinze meses

aparentemente improdutivos, antes de se mudar para Filadélfia, e pouco depois

publicar The Narrative of Arthur Gordon Pym. No verão de 1839, tornou-se editor

assistente da Burton's Gentleman's Magazine, onde publicou um grande número de

artigos, histórias e críticas. Nesse mesmo ano, foi publicada, em dois volumes, a sua

colecção Tales of the Grotesque and Arabesque (traduzido para o francês por

Baudelaire como Histoires Extraordinaires e para o português como Histórias

Extraordinárias, uma das versões traduzidas por Clarice Lispector, pela Ediouro,

em 2005, que contém 18 contos de Poe.). Apesar do insucesso financeiro, essa obra

é apontada como um marco da literatura norte-americana. (POE, mar./jul. 2010).

9

No início de 1845, foi publicado, no jornal Evening Mirror, o seu popular poema

“The Raven” (em português “O Corvo”). Particularmente, admira-se o estilo

machadiano na tradução portuguesa de “O corvo” (ASSIS, 2010).

10

As obras mais conhecidas de Edgar A. Poe são góticas, um gênero que ele seguiu

para satisfazer o gosto do público. Seus temas mais recorrentes lidam com questões

da morte, incluindo sinais físicos dela, os efeitos da decomposição, interesses por

tapocrifação, a reanimação dos mortos e o luto. Muitas das suas obras são

geralmente consideradas partes do gênero do romantismo negro, uma reação

literária ao transcendentalismo, do qual Edgar Allan Poe fortemente não gostava.

(POE, jul. 2010). 274 Gláuks

3 Aspectos da vida e obra de Sebastião Bemfica Milagre

A partir de 1940, Sebastião Milagre começa a escrever

seus sonetos: tinha dezessete anos. Com a morte do pai, volta à

cidade natal, interrompendo o segundo grau que iniciara no

Colégio Arnaldo, de Belo Horizonte. Passa no concurso da

Polícia Civil. Trabalhou como escrivão em Divinópolis, MG.

Sua profissão lhe servia como um dos espaços de elaboração e

de inspirações para tematizar o cotidiano e a abjeção da

humanidade; rebelou-se contra a ditadura, tornando-se porta-voz

da juventude local. A visão milagreana do “mundo (i)mundo” se

desvai ao maniqueísmo vital, mas se revela paradoxal ironia. O

corpo se torna o cárcere da alma e o locus das pulsões

contraditórias do pecado: as inclinações do desejo e da

sexualidade. Milagre morre em 22 de fevereiro de 1992, em

Belo Horizonte, Minas Gerais. Outros dados autobiográficos

podem ser encontrados na dissertação de Pereira (2011).

4 Uma proposta de análise intertextual

Edgar Allan Poe publicou “O corvo”, pela primeira vez,

em 29 de Janeiro de 1845, no New York Evening Mirror. A

versão de 1883, aqui, é a tradução de Machado de Assis. O tema

atende à alegoria do Ultrarromantismo inglês: o corvo é o ícone

de morbidez. O “corvo” repousa sobre o busto de Atena como

ícone da inexorabilidade da morte. O domínio de Tanatos e o

seu legado insuportável eterno são elementos constitutivos da

poética. A construção da personagem funciona como arquétipo,

um idílio fúnebre e a universalidade da perda da amada. A

obsessão de Poe está na construção do verso e sua musicalidade,

cujos recursos da língua inglesa

11

reproduzem a ambiência lírica

11

Aqui se contempla a tradução de Fernando Pessoa do poema “The Raven” (2010). Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 275

da melancolia e do luto, impregnada de rimas internas e de

arranjos eufônicos.

12

Poe começa a situar a aparição do “corvo”,

em que flui a saudade da amada, cuja memória é a cinza sobre a

brasa: “Era no glacial dezembro; / Cada brasa do lar sobre o

colchão refletia / A sua última agonia.” (apud ASSIS, 1883, p. 1)

O contraste se apresenta à medida que a esperança se esvae

como o ocaso do sol. O eu-lírico mergulha-se no inconsciente

com imagens fúnebres como pesadelo. O poema se anuvia com

o reino de sombra, um locus onírico. O eu-lírico sussurra o

nome de sua amada: “Só tu, palavra única e dileta.” (apud

ASSIS, Idem, p. 2) Não tem certeza do que encontrará no sonosonho como resposta ao seu lamento: a repetição atroz: “Nunca

mais.” (apud ASSIS, Ibidem), a denegação da vida: “Que dos

seus cantos usuais / na amarga e última cantiga.” (Idem, p. 3).

Esse estribilho faz fluir imagens de seu desejo febril de

reencontrar o impossível: da tumba, emerge a figura da morta e

o poeta chora a perda da amada de sua alma.

Eis o poema de Sebastião Milagre que aqui

disponibilizamos para cotejamento com “O corvo”, de Edgar

Allan Poe:

“... É assim que o destino bate à porta.”

(Beethoven)

12

O maior problema encontrado na tradução de O Corvo é preservar os intrincados

mecanismos métricos e fonéticos que conferem ao poema sua tão reconhecida

musicalidade que, combinada com o ar soturno do próprio poema (aspecto inerente

ao próprio zeitgeist [espírito de uma época], em termos literários), fizeram essa obra

famosa mesmo entre os que não conhecem Poe ou a corrente à qual o autor

pertenceu. (POE, jul. 2010). 276 Gláuks

trombodoença assoma

a sombra assombra

fataldia

porque a Lilia foi-se?

ah! foice

era esposa noiva

morrenova

estou a atri

batido bulado

ver amo

gastado finado

entre tanto

amor mor não mor

re

li li amor

minha na

morada

quando e quanto

te terei hoje-sempre?

querida

quero ida contigo

e ter na

feliz-cidade.

(MILAGRE, 1972, p. 57). Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 277

Tanto Poe (2005) quanto Milagre (1972) culpam o

sobrenatural pela morte da amada, mas eles são poetas e, como assevera Fernando Pessoa: “o poeta é um fingidor”. Essa

assertiva está no poema de Pessoa (1972) “Autopsicografia”:

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

(PESSOA, 1972, 164).

A atualidade de Poe é recorrente a tal ponto que Ricardo

Piglia (1997)

13

aproxima a Psicanálise à Tragédia no diálogo

entre os poetas. Para Piglia, Freud buscou a tragédia como

forma, não gênero

14

, que estabelece uma tensão entre o herói e a

palavra dos mortos. A tensão é ambígua entre a palavra dos

deuses e a dos mortais. Tal estruturação parte da palavra: recurso

pessoal que desmistifica o poder e remete ao homem como autor

de seu destino e vida.

15

Para Poe, segundo Piglia (1997), o

13

Ricardo Piglia proferiu a conferência “O melodrama do inconsciente”, em Buenos

Aires, para a Associação Psicanalítica Argentina, em 07 de julho de 1997. O artigo

foi traduzido por Sérgio Molina e publicado em 21 de junho de 1998 na Internet.

Disponível em: <http://biblioteca.folha.com.br/1/22/1998062101.html>. Acesso em:

17 jul., 20:00.

14

Em literatura, a tragédia como um gênero é uma tensão entre o herói e a palavra dos

deuses, do oráculo, dos mortos, uma palavra vinda do outro lado, dirigida ao sujeito,

que não entende tais mensagens. O herói escuta um discurso enigmático como em

Édipo, Hamlet, Macbeth. Essa discussão começa com Nietzsche e chega a Brecht.

15

Em “Édipo” há um problema com pais e mães, em “Hamlet” há um problema com a

mãe. Mas em “Hamlet” há também um pai que fala depois de morto. Outra forma de

pensar a psicanálise e a literatura se dá pela obra dePoe, no gênero policial.

Inventado em 1843, invadiu o mundo contemporâneo. Hoje o mundo questiona a lei 278 Gláuks

escritor-detetive é capaz de discutir o mesmo que a sociedade

discute, mas de outra maneira. Essa maneira é a chave especial.

O psicanalista nos convoca como sujeitos trágicos; diz que há

um lugar em que todos somos sujeitos extraordinários, lutando

contra tensões e dramas profundíssimos, e isso é muito atraente.

Convoca-se o sujeito para um lugar extraordinário, tirando-o do

anonimato e repensando o sentido da experiência cotidiana.

Pode-se estabelecer um nexo entre ambos quanto à escrita como

estado simultâneo de lucidez e loucura, em que eles transferem

seus conflitos e os da modernidade para a poética como a arte

da natação intrapsíquica. A Literatura é o divã desse pesadelo.

“Tomba, tromba...” (MILAGRE, 1972, p. 57) na história

de sua vida, o labirinto da sua melancolia, um luto prolongado

em cada obra, em cada verso, em cada suspiro, em cada grito.

Um lamento como Beethoven: apenas a solidão fica do que não

parte, a outra parte é irrecuperável. Cada nota musical, cada

verso, cada pauta de dor, cada partitura de réquiem é só uma

rememoração do espectro como apelo musical fúnebre, bem do

gosto do poeta mineiro, cujo antecedente nos remete à musica

barroca ou a Mozart, Brahms, Berlioz e Verdi. Na liturgia cristã,

o réquiem é uma espécie de prece ou missa especialmente

composta para um funeral. Música cantada durante os velórios

ou simplesmente para homenagear os mortos. O retrato é o

espelho do que já não é; não existe mais. Especula o além, só

fica aqui no agora, flui o aquém da vida terrenal. E “assim o

destino bate à porta...” como intuíra Beethoven (MILAGRE,

1972, p. 57.) O poeta não “tampa” (Idem, p. 57) ou reprime o

seu luto, seu réquiem: solve cada dia sua melancolia... Há uma

fatalidade, tragicidade poeniana (como Poe sofre a perda de

e a verdade: não se deve subestimar o mal e o crime. Poe inventa um sujeito

extraordinário, o detetive, cujo destino é estabelecer a relação entre a lei e a verdade.

O detetive não pertence ao mundo do crime nem ao mundo da lei; não é um policial.

Em Dupin, Sherlock Holmes, o detetive vem abrir o lugar da verdade que não

pertence a nenhuma instituição. Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 279

Virginia tanto quanto o eu-lírico amaldiçoa o mar, que lhe

roubara Annabel Lee). Uma noiva morta lhes resta. Lilia e

Annabel Lee são representações tumulares, sentenças

paradigmáticas fúnebres, projeções líricas elegíacas, ou seja,

tornaram-se túmulos, namoradas da morte, moradas finadas,

amadas finitas, imortalizadas no verso.

O texto de Milagre é cheio de recorrências: metonímias e

metáforas da morte como foice (cf. MILAGRE, 1972, p. 57)

=foi-se (o sentido de partida radical no foi-se e no instrumento

agrário da foice como força mortal do anjo coletor de almas). A

metáfora milagreana da trombose que mina a vida com as

marcas da morte – os trombos. Constituem efeitos ou leimotiv de

repetições fonéticas em tromba, tomba, tampa, que repercutem o

signo trombo: célula que perdera sua capacidade de ser

condutora de vida-sangue. A morte é equiparada em Milagre à

doença, assoma de Thanatos, assombra de espectros, fatalidade,

Finados... Justamente, o poeta enterrara a Lilia no dia de

Finados de 1970.

Assim, Freud visualiza a pulsão de morte em

Interpretação dos sonhos como simbologias que foram já

recalcados pela censura da psique. Seja o mar e a sombra, seja o

sonho, a negação do desejo e da doença; a vida é a estranha

aventura que se abala. A tragicidade da vida como inexplicação

em si na morte. A tensão vida-morte é a constante das pulsões

intrapsíquicas. Em 1972, em Gritos, obra de ruptura, Milagre

justifica-se, com tom melancólico-rebelante, logo na

apresentação de seu livro:

Gritar que o amor é incompreensível por querer sustentar-se

eterno na fugacidade da vida terrena... [...] Gritar que a vida é

insuportável. [...] não há remédio para o amor cujo desfecho é a

morte. [...] Por que tive o destino de amar profundamente e a

uma só mulher? Melhor é destruir estes versos? Melhor que

ninguém lembre que Lilia e Tião se amaram?... (MILAGRE,

1972, p. 13). 280 Gláuks

O Mal do arquivo (DERRIDA, 2001) perpassa a crise da

modernidade e propõe uma postura crítica à escritura, apontando

várias reflexões interessantes como a compreensão da erotização

do poema como libido. A fluidez do texto como prazer e

sublimação pode ser vista em Prazer do texto (cf. BARTHES,

1987), apontando o deslocar metafórico da morte como

pathos.

16

O conceito de eterno retorno, de Nietzsche, está na

circularidade do sofrimento, na melancolia e no luto do poeta

como arconte ou homem da memória,que nos elucida Colombo

(1991)

17

e Le Goff (2003)

18

. Aí está o segredo de Milagre. Para

Adorno, isso é a indissolubilidade do segredo.

19

Em O mundo e

mundo-outro (MILAGRE, 1976), Dr. F. Teixeira justifica:

Tudo anuncia a volta. A presença imorrida. [...] ninguém morre

completamente. Aí começa o sono da realidade entre os sonhos

16

O paradoxo dessa poesia elegíaca aparece como estrutura em Prazer do texto, de

Barthes (1987). Eros e Thanatos, de viés neossimbolista, tecem o pharmakon

derridiano no pathos de Milagre, cujo fundo temático, ao mesmo tempo, é místico e

cético, na melancolia do poeta moderno. Milagre se inscreve nas questões de criação

à maneira de Shakespeare, Dante e Poe, em que a mímesis se articula com

aproximações e distanciações do cânone. O próprio Sebastião Milagre vivencia, na

crise do “desencanto da modernidade”, a tensão entre morte e vida como enfatizara

Weber (apud BOMENY, 1994, p. 190). Helena Bomeny, de sua parte, cita como

tensão na proporcionalidade entre racionalidade e emoção: “entre os valores em

declínio e a realidade recalcitrante; entre a paixão calente e o senso frio de

proporcionalidade, entre a personalidade eticamente racionalizada e o mundo

etnicamente neutro.” (apud BOMENY, 1994, p. 190).

17

É interessante a metáfora do labirinto, do bloco mágico e do jardim como risco do

esquecimento ou delete parcial ou total sobre as memórias arquivadas pelos recursos

midiáticos.

18

Ele especifica os sentidos da memória e sua institucionalização ao longo da história,

graças à valorização dos estudos dos arquivos, a mediação dos homens da memória

como sacerdotes, arcontes, magistrados, historiadores e outros pesquisadores.

19

O Segredo não será descoberto! A literatura vive de uma indissolubilidade dele,

visão esta que coloca em suspenso a noção de que o texto é um enigma a ser

revelado ou descoberto. Veja o filme “La Flor de mi secreto”, de Pedro Almadóvar

(1995), que sustenta essa posição adorniana em sua Teoria Estética. A síntese do

filme se encontra em http://www.adorocinema.com/filmes/filme-13051/, acesso em

25 de março 2010. Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 281

da verdade. Mas, seus sentimentos pertencem ao poeta, que

estourou as paredes do tempo com os gritos do amor e acordou

os homens para segredar-lhes ser a ausência a única convicção

da presença dos que amamos numa estação, bem próxima, de

espera. [Gritos] foi a melhor herança que todos aqui

recolheram, por você, Sebastião, de sua sempre-lembrança,

sempre-presença, sempre-Lilia. (MILAGRE, 1976, p. 8).

Marques (2003, p. 143 e 146) explicita o “Um Duplo

Envolvimento” e “Uma Dupla Operação” no arquivamento de

si: “prática de construção [de imagem íntima de si] e de

resistência” (Idem, p. 147), talvez a possíveis (in)compreensões

sobre sua poética em uma comunidade em transição entre o

tradicional e o moderno. Marques, em “Arquivamento do

escritor” (2003)

20

, especifica a relação poética com o mercado

e Marques (2007)

21

especifica os conceitos de locação em

diferentes aspectos, como: literário, cultural, político e dos

afetos. O poeta não pode se furtar da tensão entre a autonomia

da arte e sua sobrevivência no mundo editorial e

mercadológico. Em Gritos (1972), tem-se uma obra de ruptura,

com uma tônica melancólica decorrente do passamento de sua

esposa Lilia. Em cada página, o poema assume formas

diferenciadas nas variações semânticas. A trova servirá a outro

propósito: um canto de lamentação e o epitáfio ao espectro da

mulher e seu encontro em clima onírico e utópico. A indagação

do eu-lírico não encontra respostas para a morte da amada. O

20

Para Marques, o Arquivamento do escritor constitui um estudo transdisciplinar, que

envolve os arquivos no Acervo de Escritores Mineiros da UFMG, com os recursos

tecnológicos específicos. O escritor passa a existir no papel quando se inscreve em

registros de toda ordem. Nos prólogos de Milagre, vê-se essa intenção

autobiográfica.

21

Nesse artigo, Marques afirma: “Acredito que as relações entre poeta e o mercado

podem se dar de forma que não acarretem a mercantilização da inteligência e da

poesia. Trata-se de uma defesa da pureza da poesia que pode parecer, aos olhos de

hoje, um tanto idealista, senão ingênua.” ( p. 8). 282 Gláuks

desespero aumenta com o silêncio de Deus

22

e não aceita

resignar-se frente ao mistério da finitude. A morte é vista como

trágica. Cabe ao homem fugir no sonho. Para o poeta, a

felicidade dos outros lhe faz sofrer mais com a inexorável

sentença de morte da amada. Resta ao poeta projetar um

encontro além com Lilia, quando sua vida aqui é só

melancolia-solidão, taedium vitae e desejo de morte. É o

Spleen, de Baudelaire.

23

Mas, procura-se articular a figura de

Lilia à “Annabel Lee”, de Poe (2007), ambas jovens e falecidas

prematuramente. A tragicidade grega se reitera, mas deixa

marca de tradição não somente no cânone. Eufonicamente, há

ecos da “Anabell Lee”, de Poe, na escrita milagreana... São

ecos de vozes femininas em ambas as obras. O tema da perda

da amada é mais frequente do que se pensa na literatura

mineira, um dos motivos é a melancolia como desencanto da

modernidade como afirma Reinaldo Marques (2002), no artigo

“Minas Melancólica: Poesia, nação, modernidade”.

5 Conclusão

Que diferenças e convergências há entre Poe e Milagre,

sendo dois autores de épocas diferentes? A aproximação

temática

24

comum entre eles não descura da diferença de estilos

22

Parece com o silêncio do pai em “A terceira margem do rio”, conto de Guimarães

Rosa.

23

Na verdade, existe em Milagre uma justaposição de textos e imagens que reiteram a

perda da mulher amada; nesse sentido, evocam-se as figuras de mulheres nos textos

de Poe e Milagre.

24

Diante da finitude do homem, o Simbolismo apela para uma transcendentalidade

cujo status trouxe não menos o espaço simbólico de fugas e excessos. Contudo,

significou o simbolismo em outras versões no modernismo, uma indagação sobre os

mistérios que a ratio não ousava decifrar contundentemente. Daí uma demanda

paradoxal em Poe e em Milagre, ao mesmo tempo, fisgar-lhe a criatividade gótica e

os recursos da poética no ultrarromantismo anglo-americano. Em ambos, o gênio Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 283

e de contextos sociais. O tema da morte e da morte da mulher

amada é uma das convergências. A diferença reside no estilo e

no deslocamento desse tema em épocas diferentes. O que se

destaca é a ousadia lírica de ambos, visto que se apresentam,

paradoxalmente, o ceticismo ao lado de reflexões religiosas.

Ambos fizeram sonetos de cunho tradicional na perspectiva

canônica. Na obra Gritos (1972), Milagre também começa com

um soneto a Lilia, sua primeira esposa, que serve de mote ou

leitmotiv para uma desconstrução, como desdobramentos

ousados à maneira modernista e vanguardista. Ambos se

revelam melancólicos e incisivos contra a ortodoxia. T. S. Eliot

(1989), em “Talento individual e tradição”, preconizou a

maneira pela qual o poeta elabora uma diferente interpretação da

tradição. É essa a perspectiva de diálogo entre psique e cultura,

ou seja, entre pulsão e lírica, focando Eros e Tanatos nos temas

inovadores em Poe e Milagre. O fluir da libido no verso exige

meticulosidade do poeta, articulando elementos de uma pulsão

lírica para deixar falar o desejo, negado pela censura e pela

Ratio. Ele, mimeticamente, elabora seus conteúdos

inconscientes. A escritura é híbrida, um conjunto de pulsões:

uma representação materializada na linguagem, certo recorte do

“real”, da libido no locus verba do texto e do contexto como

materialização do desejo, seja calcado nos princípios de morte

ou de vida. Poe e Milagre questionam ou descondicionam visões

estereotipadas de homem e de mundo. O poema é o lugar da

sublimação e da melancolia que perpassa o processo de criação

densa. Ambos se constituíram divisor de águas em suas

sociedades. O Eros exige a libidização das relações como

realização e autorrealização do ego que se abre ao Id freudiano.

O Superego se interpõe como censura e ruptura do desejo e

causa o recalque. A vida humana se torna o espaço de frustração

irrequieto e rebelante só foi reconhecido tardiamente, uma vez que seu modo

próprio de escritura representou ruptura e ameaça ao status quo. 284 Gláuks

amorosa e conflito existencial, diluindo as razões da submissão

do homem ao destino e ao trauma da morte. Assim como

apontara Ramos (2008): “[...] nenhum texto pode ser lido como

documento passivo, como um testemunho transparente da crise.

[...] A literatura moderna se constitui e prolifera, de modo

paradoxal, anunciando sua morte e denunciando a crise da

modernidade.” (p. 15) Para esse autor, que conceitua o poético,

“o olhar – e a autoridade - da poesia começa onde termina o

mundo representável pela disciplina. Daí, a literatura ser uma

fronteira da fronteira, uma reflexão sobre os limites da lei.”

(RAMOS, 2008, p. 38)

25

Nessa acepção moderna ou de

modernidade, é que se devem inserir as preocupações com a

necessidade de contextualizar a análise que realizamos aqui em

um viés social e político das obras de Poe e Sebastião Milagre

na poética. Ou melhor, promover indagações sobre o

enfrentamento do sofrimento e do esvaziamento do sentido

existencial; uma leitura intertextual que parte da Psicanálise e

avança em outros saberes, como a Antropologia, a Sociologia e

a Filosofia, em especial na poética moderna em suas

implicações na contemporaneidade. Essa abordagem aparece em

algumas obras como as de Freud (1899 e 1919), de Bruno

Bettelheim (1982), L. C. Lima (1983), T. S. Eliot (1989), Colombo

(1991), Bomeny (1994), Derrida (2001) e Le Goff (2003). É claro que é

uma abordagem ampla colocada apenas como insinuação de

futura leitura. À luz da escritura de Edgar A. Poe, não se pode

deixar de dizer que Sebastião Bemfica Milagre constitui o poeta

em processo de conquista das letras, às margens, uma vez que se

inspira naquele seu fazer poético ousado.

25

As narrativas podem (re)velar sua própria leitura política. É necessário historicizar a

obra de Sebastião Bemfica Milagre como contestação à ditadura militar no Brasil. Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 285

Referências

ASSIS, Machado de. Tradução de “O corvo”, de Edgar Allan Poe. (1883).

Disponível em:

<http://pt.wikisource.org/wiki/O_Corvo_(tradu%C3%A7%C3%A3o_de_Ma

chado_de_Assis)>. Acesso em: 25 mar. 2010, 21:00.

Barthes, R. Prazer do texto. Tradução J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva,

1987.

BETTELHEIM, Bruno. Freud e a alma humana. São Paulo: Cultrix, 1982.

BOMENY, Helena. Guardiães da razão: modernistas mineiros. Rio de

Janeiro: Editora UFRJ / Tempo Brasileiro, 1994.

COLOMBO, Fausto. Arquivos imperfeitos: memória social e cultura

eletrônica. São Paulo: Perspectiva, 1991.

DERRIDA, J. Mal do Arquivo. Trad. Claudia Rego. Rio de Janeiro: Relume

Dumará, 2001.

ELIOT, T.S. Tradição e talento individual. In: Ensaios. Tradução Ivan

Junqueira. São Paulo: Art Editora, 1989, p. 37-47.

FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. v. XVII. [1899]. Tradução

Walderedo Ismael de Oliveira. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

FREUD, Sigmund. O “Estranho” (1919). In: ESB das obras completas de

Freud. Rio de Janeiro: Imago, vol. XVII, 1969.

LE GOFF, J. História e memória. Tradução Bernardo Leitão et al. 5. ed.

Campinas: Unicamp, 2003.

LIMA, Luiz C. Teoria da literatura em suas fontes. Rio de Janeiro:

Francisco Alves, 1983.

MANN, Thomas. A morte em Veneza. São Paulo: Ed. Flama, 1944.

MARQUES, Reinaldo. Minas melancólica: poesia, nação, modernidade. In:

Revista do Centro de Estudos Portugueses, v. 22, n. 31, Belo Horizonte:

FALE/UFMG, p. 13-25, jul./dez. 2002. Disponível em:

<https://www.ufmg.br/aem/inicial/publicacoes/artigos/marques_minas.htm>.

______. Arquivamento do escritor. In: SOUZA, Eneida Maria de;

MIRANDA, Wander Mello. (Orgs.). Arquivos literários. São Paulo: Ateliê

Editorial, 2003. 286 Gláuks

______. Poesia e mercado: o que dizem as cartas. Suplemento Literário. In:

Suplemento: acervo dos escritores mineiros. Belo Horizonte: Secretaria de

Cultura de Minas Gerais, jun. 2007, edição especial.

MILAGRE, Sebastião Bemfica. Gritos. Divinópolis: ADL (Academia Div.

de Letras), 1972.

______. O mundo e mundo-outro. Divinópolis: Sidil, 1976.

MOLLOY, Sylvia. À vista, a escrita autobiográfica na América

Hispânica. Chapecó: Argos. 2003.

PEREIRA, José João Bosco. Sebastião Bemfica Milagre: um lírico da

modernidade em Divinópolis, MG. 2011. Dissertação (Mestrado em Letras).

São João Del-Rei: PROMEL/UFSJ, 2011. Disponível em:

<HTTP://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/mestletras/A_DISSER>

ou <http://www.ufsj.edu.br/portal2-

repositorio/File/mestletras/A_DISSERTACAO_de_JOSE_JOAO_BOSCO_P

EREIRA.pdf>. Acesso em: jan. 2011.

PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1972.

______. Tradução do poema “The Raven”, of Edgar Poe: First Published in

1845. Disponível em:

<http://virtualbooks.terra.com.br/artigos/o_corvo/The_Raven_de_Poe.htm>.

Acesso em: 25 mar. 2010, 22:00.

POE, Edgar Allan. Antologia de contos. Tradução Brenno Silveira. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.

______. Dictionnaire Encyclopédique Pour Tous. Paris: Petit Larousse,

1966.

______. Poesia e prosa: obras escolhidas. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1990.

______. Poemas e ensaios. Trad. Oscar Mendes e Milton Amado. São Paulo:

Globo, 1999.

______. História extraordinárias. Tradução Clarice Lispector. Rio de

Janeiro: Ediouro, 2005.

______. Artigo sobre sua vida e obra. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Allan_Poe>. Acesso em: 25 mar. 2010.

______. Biografia. Disponível em:

<http://edgarallanpoe2k.blogspot.com.br/2009/07/edgar-allan-poebiografia_17.html>. Acesso em: 13 jul. 2010, 8:50. Diálogo Intertextual entre a Pulsão Lírica de Edgar Allan Poe e ... 287

RAMOS, Julio. Desencontros da modernidade na America Latina:

literatura e política no século XIX. Belo Horizonte: UFMG, 2008.

RODRIGUES, Antonio Paiva. Edgar Allan Poe. 2007. Disponível em:

<http://www.supertextos.com/texto/Edgard_Allan_Poe/4344>. Acesso em:

25 mar. 2010, 20:00.

WEBER, Max. Vida e obra. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber#A_ci.C3.AAncia_como_voca.C3.

A7.C3.A3o>. Acesso em: 25 mar. 2010, 23:00.

______. A ciência como vocação. Disponível em:

<http://otambosi.blogspot.com.br/2006/06/weber-e-o-desencantamento-domundo.html>. Acesso em: 25mar. 2012, 22:00.

ABSTRACT: This paper proposes an intertextual reading of “The

Raven” and “Annabel Lee”, by Edgar A. Poe (1845 and 1849), and

Gritos, Sebastião Bemfica Milagre’s poetry book (1972). The analysis is

centered on the Freudian concept of drive, such as the death instinct and

the libido. The poets are distant in time and space, for Poe’s literary work

marked the end of the nineteenth century, and Milagre’s the end of the

twentieth. This problematization appears as a rupture (life/death) from the

theme of the beloved one. In the context of modern poetry, both authors

rely on poetic experiences and experiments in the language. This format

does not exhaust the possibility of temporal and spatial frameworks.

Thus, the drive is designed in the universal and local literature, spanning

the modes of imagination. Eros and Thanatos establish the approximation

and distance points between the modes of representation of death. By

distinguishing these points, literature is conceived by different cultures.

KEYWORDS: The poetic of the modernity. Lyricism. Tradition and

drive.

Data de recebimento: 15/10/2010

Data de aprovação: 15/07/2011

http://www.revistacamoniana.ufv.br/arearestrita/arquivos_internos/artigos/9Artigo_15__Jose_Joao_Bosco_e_Maria_Angela__diagramado.pdf