Tempo e Relógios
Os relógios marcam as horas o tempo todo. Nada deixam escapar. Engraçado que tudo depende deles... Buscar as crianças na escola, preparar o jantar, fazer uma ligação... Tudo isso, normalmente, passa pela lei dos minutos e horas que o relógio marca. A vida está concentrada em algo que inventamos. O tempo!
Temos tudo condicionado a medidas de tempo que nos dizem quando devemos fazer as coisas, como se não fossemos autossuficientes para definir nossas vontades e responsabilidades. Lógico que uns são mais escravos que outros em relação aos relógios da vida. Mas, sem exceção, nos prendemos ao irrepreensível tempo!
Eu mesmo vejo o tempo como uma péssima invenção. Ele não é imparcial, quase sempre um estraga prazeres. É, assim mesmo, no plural! Quando vivemos algo bom o tempo corre depressa demais, pega táxi, se tivermos engarrafados, até um moto táxi pra passar mais rápido costurando tudo! Mas quando vivemos situações dolorosas o tempo parece caminhar em câmera lenta, quase numa prova de marcha atlética e isso nos faz crer que o tempo é um verdadeiro amigo da onça!
Sendo um pouco racional, percebemos e temos a clareza de que o tempo é sempre o mesmo. Vem sempre na mesma medida em todas as situações, sejam situações boas ou adversas. Nós que, psicologicamente, delimitamos tempo maior ou menor a esses instantes de dor ou prazer! O fato é que quando estamos felizes, contentes ou qualquer outra palavra que signifique estado de euforia prazerosa- adoro essa expressão- não nos preocupamos em contar o tempo, apenas em sermos felizes ao máximo. Porém, quando estamos em situações difíceis, momentos em que pensamos não haver saída, alguma tristeza desmedida, começamos a enxergar o tempo, suas horas, minutos, segundos e até milésimos... Contamos porque sentimos a necessidade de que esse tempo corra, de preferência para longe.
Mas essa discussão temporal se torna complexa e até então, sem explicação, quando o relógio e seu tempo começam a marcar e definir momentos essenciais e impulsivos do ser humano. Em tempos como esse, de poucos sentimentos, de tantas decepções, de hora para tudo, há hora marcada para se fazer amigos, para pedir desculpas, abraçar alguém, dizer “eu te amo”... Há hora para amar alguém, como se fosse possível marcar um horário com a secretária e dizer que quer se apaixonar.
Vivemos uma escravidão sem igual para com o tempo. Somos dependentes dos minutos e horas. Mas não há sentido em que algo que criamos domine tudo que sentimos. Abraços, beijos, desculpas, declarações, amar e viver as emoções não pede tempo, não marcam hora nem avisam, simplesmente aparecem, surgem e se vive tudo isso ou se deixa passar. É tudo tão curto- e isso já envolve tempo- para que esperemos o melhor momento ou que o relógio nos indique a hora certa para fazermos o que sentimos... Eu quebrei todos os meus relógios para viver além do tempo!