O Humano Desumano

Não sou adepto a discussões políticas ou religiosas, muito menos filosóficas. Primeiro porque acho que esse tipo de debate traz contendas pouco produtivas e segundo porque são poucas as pessoas que conheço que sejam capacitadas para emitir opiniões sobre tais assuntos de forma concisa e, realmente, pertinente.

Mas não pude me furtar a este momento de reflexão dado aos atuais acontecimentos globais e pessoais, além das afirmações equivocadas (eufemismo) que tenho ouvido quase que diariamente a respeito de vários assuntos.

Convido você a participar desta reflexão, sem nenhum intuito de persuadi-lo, mas como forma de levá-lo a pensar de forma mais eficaz no momento em que se deparar com determinadas situações do cotidiano.

Sempre que leio algum “especialista” comentando sobre o mundo em que vivemos ou a sociedade nele existente, sempre há uma frase ou variações delas presentes. “O mundo (ou sociedade) está passando por uma transformação”. Caro amigo (a) (chamarei de irmão (ã) daqui por diante), não se deixe impressionar por este clichê lingüístico equivocado. Desde que o mundo é mundo (ok, podemos sim considerar o big bang se é que ele realmente existiu) ele encontra-se em transformação. A transformação é um processo constante e infidável que começou antes mesmo do momento em que os gametas dos nossos genitores se encontram e continuam depois do momento em que damos o último suspiro.

Tudo está mudando sempre. Estamos mudando a todo o momento. Não há porque levar a transformação “atual” em questão para compreender os problemas sociais. Sim. Todos os problemas do mundo são sociais. Ou melhor, são problemas humanos! Neste exato momento os mais estudados dirão: “é a mesma coisa, idiota”. Mas não neste texto. Neste texto eu quero te convidar a refletir sobre os problemas excluindo o conceito de sociedade, e colocando-lhe no seu real lugar, no olho do furacão, como o real causador dos problemas que vivemos.

Olhe-se no espelho, irmão (ã). O que você realmente vê? Eu digo o que você deveria ver. Você deveria ver uma máquina produtora de equívocos e julgamentos, pois na realidade, é isso o que você realmente é! Não concorda? Sem problemas, estamos aqui para refletir, lembra? Então responda a si mesmo, quantas coisas você fez de errado hoje ou ontem e quantas delas você assumiu a responsabilidade? Sim, responsabilidade. Assumiu como sendo o real motivo do acontecimento sem tentar aplacar a qualquer outra coisa ou pessoa sua real motivação?

Se você afirmou para si mesmo que não cometeu nenhum erro, bom, você acabou de errar, novamente, pois tentou enganar a si mesmo. Se você assumiu que errou, mas não colocou em qualquer outra coisa ou pessoa a responsabilidade, bom, você é somente mais um que errou de novo.

Essa é a nossa real natureza. Estamos o tempo todo procurando um alvo ao qual lançar nossa flecha envenenada da responsabilidade, ou melhor, falta dela! O fumante joga no trabalho a responsabilidade da nicotina; o ébrio lança ao mundo inteiro a sua responsabilidade pelo álcool; o Adultero lança sobre o cônjuge a sua culpa; o ladrão lança à sociedade a sua falta de oportunidade; o usuário de drogas afirma que a responsabilidade é da sociedade, dos amigos e dos seus pais; o preconceituoso racial diz que a culpa é da raça a qual julga; a raça julgada diz que a culpa é dos preconceituosos e da sociedade que evoluiu colocando-os a margem dela; o homofóbico diz que a culpa é do homossexual; o homossexual diz que a culpa é do homofóbico e do heterossexual; os eleitores colocam a culpa nos políticos; e os políticos... bom, em breve toco nesse assunto.

Então, caro irmão (ã), veja que a todo o momento estamos encontrando um “culpado” para nossas fraquezas e vícios. Calma. Que me desculpem os homossexuais, não quero chamá-los de viciados ou fracos, por favor. É a ultima coisa que desejo aqui. A questão aqui é: Nós como seres humanos estamos sim querendo nos livrar da responsabilidade das coisas (ruins) que acontecem em nossa vida!

A esta altura você deve estar se perguntando o que me motivou a escrever esse texto. A verdade é que li numa rede social que estão querendo realizar um “luto” contra a corrupção. Nossa. Que lindo. Enfim a sociedade brasileira irá se mobilizar contra as más condutas dos nossos governantes. Que lindo! Após marchas de todos os tipos com as mais diversas finalidades e pleitos a sociedade brasileira se mobilizará contra nossos políticos que realizam atos incompatíveis com a situação de representantes do povo.

Mas eu proponho a você um luto diferente. Olhe-se no espelho e diga: Você é motivo do meu luto! Irmão (ã), responda com o máximo de sinceridade, que sua personalidade possa permitir, você não é um corrupto também?

Você possui ligações clandestinas (gatos) de qualquer ordem em sua casa? Internet, televisão, eletricidade, gás, água, qualquer coisa em sua residência? Não? Que bom! Meus parabéns. Então você também jamais assistiu a um filme pirata, não é verdade? Não também? Meus parabéns novamente. Então você não baixa músicas na internet sem pagar direitos autorais? Nossa. Se até aqui você conseguiu não ser um corrupto, você é realmente uma pessoa digna. Mas você é contra o seu baixo salário e contra os altos salários que o funcionalismo público recebe, mesmo que estes, segundo sua opinião, não trabalhem de forma suficiente para tal. Mas ainda assim estuda quantas horas por dia para ser admitido em um concurso público? 5 horas, 8 horas, 12 horas por dia? Entendi. Você nunca prestou concurso público e jamais prestará. Então você sente medo da falta de segurança que sente ao sair da porta de sua casa, ou até mesmo dentro de casa, mas sempre que vai a uma festa faz uso de alguma substância ilícita? Ou alguém próximo a você faz uso e você trata o fato como costumeiro e sem maiores conseqüências? Não também. Nossa. Você é o ser humano perfeito.

Caro irmão (ã) deixe de se iludir. Você é o real motivo do mundo que vivemos. Sim, você elegeu os políticos que lá estão. Você é quem alimenta o crime organizado. Você compactua com o nosso salário defasado. Você trai seus irmãos e a si mesmo com sua língua afiada. Você trai seu cônjuge com seus pensamentos torpes. Você faz questão de aumentar a fome do mundo. Você endurece o coração na hora de ajudar o vizinho ou parente que passa por dificuldades, mas dá dinheiro a uma emissora de televisão que deduz a sua doação do imposto de renda dela. Você julga como perdido quem se humilha a sua frente, mas ajuda a enriquecer os que se exaltam. Olhe para si, meu irmão, minha irmã, meu companheiro iludido de caminhada. Quem somos nós para julgar alguém? Quem somos nós para fazer “luto” por pessoas que ainda vivem, senão por nós mesmos?

Você realmente quer mudar o mundo? Quer realmente ser digno de se entristecer pelos problemas do mundo? Quer realmente poder se olhar no espelho e dizer: “você merece um mundo melhor”! Então irmão, negue-se a si mesmo e carregue sua cruz. Reconheça que você é fraco e tão corrupto quanto o que você julga. Faça cada atitude refletindo: “e se todos fizessem o mesmo?”

Mude o mundo irmão (ã)! Comece hoje! Comece mudando você! Comece se olhando no espelho e refletindo: “quem é realmente corrupto?”

Yuri Lucchesi
Enviado por Yuri Lucchesi em 04/09/2011
Reeditado em 17/02/2016
Código do texto: T3200231
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