Retórica da paixão
Se apaixonar nos dá sempre aquela sensação de que perdemos as chaves e não dá pra voltar. Passamos a morar no outro, ou pelo menos tentamos. Percebemos o quão bom é ter a memória fraca, como nos faz bem ser ridículos na presença do outro. Pois como diria o poeta: “O amor é o ridículo da vida”, e eu vos digo que sejamos todos bem ridículos. A vida seria muito sem graça se não tivéssemos a característica humana de se apaixonar pelo outro, amar o outro. Não importa quem amamos. Raça, religião, ausência de religião, sexualidade, classe social ou qualquer outra coisa que um dia inventamos pra diferenciar os homens. Tentando “pragmatizar” o apaixonar-se caímos num erro banal. Tentamos desvendar, concluir, teorizar tal estado de espírito.
Ao apaixonarmo-nos caímos no olho do furacão. Um verdadeiro reboliço diário que tanto faz ser de fora pra dentro quando nos arrepiamos ao lembrar o ser por quem nos apaixonamos ou de dentro pra fora quando sentimos o bom e velho frio na barriga! Ah, o friozinho na barriga! É um dos primeiros sintomas de que estamos nos apaixonando. Bem, frio na barriga dá em outras situações também, mas este é um frio especial, único e que reconhecemos com facilidade.
Apaixonar-se dá medo. Não vou ser hipócrita e dizer que é tudo lindo e maravilhoso. Há sempre a possibilidade de se apaixonar sozinho, de não durar, de não ser como esperávamos. Aí é que está o principal em apaixonar-se. Deixar-se levar, negar as rédeas, inutilizar o excesso de racionalidade, ser mais poeta que cientista. Ah, que saudade de me apaixonar!