ARRE!, É A POESIA
A intangibilidade da persona afeita à humanidade, não se conflita com sua infinita insaciez mesmo sabendo que foi a custa da fome de muitos. É, por assim dizer, que nada lhe incomoda, pois adepta e praticante da mesquinhez, não vê a exploração do próximo como exploração, mas, ao contrário, como uma maneira rápida de se sobressair.
Tem sido, por muitos séculos, essa a norma vigente e enaltecida aos quatro cantos, mas, ainda que persista, não se pode aceita-la como algo divino, embora, desde a escola se ensina que o mundo é sim e não há como mudá-lo. É o absurdo dos absurdos! Arre, mil vezes arre, às favas esses miseráveis propagandistas da exploração, Mefistófeles encarnado aos montes, abjetos seres camuflados sob vestes nobres e academistas vendidos. Descobrem que é mais fácil entregar –se a promessas vãs, não importando se com isso arrastará multidões à vala. Nojo, sinto nojo!
Sóis a vergonha milenar da humanidade. Os ladrões sempre renovados e sempre a postos. Mil vezes sinto nojo! Não ligam para a desgraça que causam, ao contrário, riem quando se notícia o aumento do PIB e, no instante seguinte, a queda da renda, dos serviços públicos e o aumento dos mendigos. Sóis os vermes a corroer nossos corpos. Sinto nojo!
E minha fala que não chega à multidão, não se cala mesmo que a querem abafada, mas se num instante de lucidez me ocorrem tais pensamentos, tenho a obrigação de lhe encontrar meios de chegar a outros igualmente interessados. Não podemos calar.
E vem a poesia
Arma secreta dos sonhadores
Arma vibrante dos insatisfeitos.
É a poesia de Baudelaire, Pessoa ou mesmo Brecht
Não importa, é poesia.
Pode ser de Ovidio, Dante
Que interessa?
É a poesia pura e simplesmente
Sem regras nem rimas.
É a poesia que rompe o silêncio
E feito relâmpago anunciando o temporal
Chega aos corações
E como o pombo ao término do dilúvio
Pousa e faz seu ninho, e tudo se transforma.
É a poesia
Senhora dos mares e companheira dos viajantes
Loucos mar adentro ao ouvir o canto da sereia
Abandonavam-se à sorte e nunca voltavam.
É a poesia e nada mais
Somente o ritmo ou sem ele
O que altera?
É a poesia dos bêbados, dos vagabundos
É a poesia dos cafetões e suas meninas
É a poesia do eterno apaixonado
É a poesia do resignado
É a poesia da adolescente sonhadora
É a poesia da criança que brinca e não pensa, só brinca
É a poesia do velho experiente e próximo do fim.
É a poesia, só isso.