Toda formação social tem a sua fatia podre, igualmente como cada um de nós. Existem fatias finíssimas e há outras que são uma banda inteira ou mais.
A fatia podre geralmente é a parte que faz mais barulho e chama à atenção, ao ponto de comprometer a imagem da parte restante do todo. Mas só a imagem.
Tendemos a julgar a maioria pela minoria. A maioria boa e decente é pulverizadamente anônima. Precisamos tentar ver o bem ou o bom da vida também. E precisamos acima de tudo fazer o bem para os bons, o bem a quem faz o bem, o bem para os maus e o bem a quem faz o mal.
Tendemos a ver nos outros o que há dentro de nós mesmos de forma prevalente, ainda que escondido em níveis anônimos de consciência. Julgar sempre foi mais fácil do que julgar-se e do que fazer pelos outros o que gostaríamos que os outros fizessem por si e por nós.
O pessimismo social sistemático e meramente crítico é muito também um sintoma de egoísmo, de amargura, típico dos mal-amados e dos maus amantes.
O simples pessimismo não muda nada. O que muda é a visão ativa, a arte, a leveza, o bom humor, as brincadeiras e outras ações psicoinclusivas e positivadoras.
O que faz a diferença nestes conflitos transicionais da atual contemporaneidade é a busca incessante pelos valores naturais autênticos, inclusive a partir da vigilância dos próprios pensamentos e dos sentimentos. [Um problema é a falta de microfones, de megafones, de câmeras e de holofotes, que são vastamente explorados pelas forças alienantes, que, por isso, passam a impressão de que são maioria. Ademais, o ruído de um tiro repercute muito mais nos tímpanos do corpo social do que o estalar de um beijo.]
Não que devamos esperar somente coisas boas na nossa direção. Não devemos agir como os otimistas visionários. Devemos mesmo é ser otimizadores, fazer a nossa parte, construir, ainda que formicularmente, a sociedade perfeita que sonhamos, a partir da nossa casa, do nosso local de trabalho, da nossa igreja, da nossa família e dos lugares por onde passamos.
Mais importante do que sermos pessimistas ou otimistas é buscarmos um mirante que nos dê uma visão panorâmica de toda a formação social da qual fazemos parte, com nossos bens e com nossos males. Veremos, certamente, que há muito mais motivos para sermos felizes do que infelizes com o mundo. Veremos que Jesus está presentado no meio de nós, não somente na pessoa dos bêbados, dos indigentes e dos mais humildes, mas também na pessoa dos amigos, dos trabalhadores anônimos, das crianças, dos velhos, dos bons policiais, dos juízes corretos, dos caridosos e no coração de todas as pessoas, independentemente de suas aparências sociais, emocionais e psíquicas.
Quanto mais panorâmica for nossa visão e quanto mais enxergarmos os outros pela lente do amor, da compreensão e da solidariedade, tanto mais felizes nos sentiremos, ao ponto até de reconhecermos que, na média, a vida é mesmo bela.
Principalmente nesta fase de transição planetária e sua efusão de invasões ideológicas capitalísticas e sociodrogais (alcoolina
[1], nicotina, musicaína[2] etc), há a impressão de que o mundo está irremediavelmente perdido. Frise-se que esses produtos sociais têm um raio de ação que atinge a todos, ativa ou passivamente, reforçados pela maior profusão de manifestações da chamada cultura de massa e suas incitações a delírios coletivos inconscientizadores,
A pior droga chama-se inação. Existem pessimistas otimizadores, que se posicionam ativamente no chamamento à ordem e à atenção para os males sociais, e existem os otimistas pessimizadores, que vivem vendo só alegria e beleza em tudo, num verdadeiro mundo de Oz, e que por isso nada ou pouco fazem para melhorar seu derredor social. Estes são os alienados mais perigosos.
Já os otimistas otimizadores são verdadeiros santos. São aqueles que são iluminados, por verem, de forma profunda e abrangente, a beleza da vida, mas que são também iluminantes, com suas obras sociais, seus discursos e seus exemplos eternos e universais.
Quando se parte para fazer alguma coisa positiva, com boa vontade, as surpresas tendem a acontecer em cada esquina, em cada olhar, em gestos simples, onde e quando antes nada se via em estado de prostração.
O caos não é exatamente caótico, mesmo nesta pororoca transicional do planeta Terra, de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração. O fluxo de encontros, desencontros, reencontros e não encontros continuam sob estreito controle das inteligências cósmicas divinais. Mesmo as energias vampíricas e más têm alguma permissão de se espraiarem, porque têm serventias corretivas, provativas e purgativas.
O bem que não fazemos para contribuir implicará o aumento cada vez maior da violência e da criminalidade, da alienação, das doenças e das mortes, inclusive voltadas em nossas direções. Os grandes fluxos de confusões, conflitos e tumultos estão sempre a nosso alcance perceptivo, mesmo que seja através da mídia.
A tendência de muitos de nós é se refugiar em suas fortalezas ideológicas. Enquanto isso, lá fora, no meio do barulho há muitos anônimos colaboradores do Cristo (inclusive alguns deles com uma lata de cerveja na mão ou com um cigarro entre os dedos) tentando suavizar dores, despertar consciências, fomentar esperanças, nos vários “corredores humanitários”
[3] desta grande batalha final. E nós? Estamos dando algum demão ao Cristo nesta mudança de padrões vibratoriais planetários ou só estamos exercendo o papel de críticos sociais estéreis?
 
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O próprio otimismo como oposição ao pessimismo pode ser igualmente danoso, se for radicalmente extremista, ou seja, se for só ilusório, alienante e simplório.
Porém, apesar do necessário senso de limite do otimismo, o otimista mediano pode também se felicitar sempre. Se os resultados forem positivos, ele tira proveito; se forem negativos, ele busca, de alguma forma, o lado bom do resultado, e geralmente o encontra. Nada é completamente ruim por si só. E efetivamente muito do que é tido como ruim é porque é sistematicamente visto do lado feio, do lado errado, às avessas. Muitos vendedores de ideologias usam a estratégia de realçar fortemente o lado ruim desse “sistema iníquo de coisas”, para logo em seguida tentar arrebanhar o futuro fiel, ainda insurreto, para sua nova arca salvadora.
A melhor oposição ao pessimismo ainda é o realismo, não o realismo chocante veiculado pela mídia como parte proeminente da realidade que bate à nossa porta.
A ideia também não é enfiar o pescoço no buraco, como o avestruz, para tentar se alienar da realidade dura que atinge a todos nós, direta ou indiretamente. Essa realidade atingiu níveis incontroláveis e alarmantes.
Mas há também uma realidade boa e respirável, que está aí também, mais abrangente, embora sempre fora do alcance das câmeras e microfones. E há o trabalho anônimo que cada um pode fazer para minimizar pelo menos a realidade que está mais próxima de si, dentro do enquadramento da sua própria câmera e do seu microfone particulares. É o trabalho da andorinha. Pode até não surtir efeito para o todo, mas há de surtir efeito para o particular, agora ou após alguma insistência melhorativa de quem parte para ajudar in loco.
A ideia é cada um ser um “realista esperançoso”, como costuma se autodefinir Ariano Suassuna. Porém, mais decisivo do que ser “realista esperançoso” é ser um realista realizador, aliás como o próprio dramaturgo e poeta paraibano.
Ao invés de tentar enxergar o lado positivo da crise “carcomista” que aí está, que cada um esmerilhe sua inteligência à cata de soluções e de sólidas ações. Estas, logicamente, existem na mesma quantidade que os problemas. Só a certeza dessa correspondência biunívoca, em si mesma, já dá um ânimo de que vale a pena esperar. Não esperar que a solução vai chegar, não. Esperar que a corajosa, insistente, suarenta, criativa e impiedosa procura da solução vai valer a pena. Assim, já se há de ser feliz a partir da própria busca. A pena do sofrimento não se anula por si mesma, mas é suspensiva é anulável por nós mesmos, a qualquer momento. Basta que tomemos o anestésico da consciência de que podemos ultrapassar o nosso sofrimento, corrigindo, pelo amor, os atos danosos praticados por nós mesmos no passado, e que geraram esse sofrimento que nos aflige no presente, particularmente no tocante a crises financeiras.
O sofrimento é a espera da mudança consciencial, o que para muitos ocorre na chamada “salvação religiosa”, ou seja, do sofrimento para a tomada de consciência pela fé.
Acople-se aos seus agires sofridos a imediata sequencialização de atos diametralmente opostos, e se alcance a salvação divina (ou do ser para Deus). Podemos não afastar logo de nós a dor objetiva, mas podemos nos afastar do sofrimento imediatamente. [“A dor é inevitável; o sofrimento é opcional.” - Tim Hansel. “Nunca diga que Você está sofrendo. Sempre diga que Você está aprendendo”. – Elza Soares.]
Com essa atitude superativa e combustiva, mesmo que ainda sob condições objetivas dolorosas, nós vamos conseguindo “furar os bloqueios” impeditivos ao acesso às riquezas ardilosamente acumuladas nas cercanias dos grandes impérios econômicos transnacionais, para nos garantir uma sobrevivência digna. É o otimismo individual transformador agora sendo utilizado como material bélico na guerra das ascensões ao nível da linha humanamente normal.
O importante, pois, não é estancar, de qualquer jeito, a dor. O importante é assumir cada um a sua dor, que é o cumprimento coercitivo de alguma lei descumprida ou não cumprida de moto próprio anteriormente. Agora, só resta saltar na próxima estação para comprar um analgésico. Já “é jogo”. Só não demore a voltar para o trem. A viagem tem de continuar. E que se tente doravante observar as leis voluntariamente. É a cura definitiva.
Por outro lado, muitos desconfortos físicos, enquanto não curados, podem até servir para elevação da alma e seus valores transformadores. Em algumas situações, é sobre um corpo fragilizado que o espírito se fortalece.Estando sofrendo de fortes dores, Paulo de Tarso pediu a Deus que o curasse, por três vezes, e eis a resposta: “Minha graça basta para você, porque meu poder faz-se perfeito na fraqueza.” (Coríntios II, 12:8-9).
 
Não só ser otimista, mas ser otimizador, ou seja, buscar meios de melhorar a realidade seja ela qual for. Orar e vigiar, mas também arar e irrigar. Incomodar, sempre que necessário. Acomodar-se, jamais.
 
Eis, pois, qual deve ser o “fim social” da sua autoempresa, do seu autobanco, ou, enfim, da sua inteligência econômica.
 
No particular, ou seja, no bojo diuturno das relações particulares entre particulares[ops!], essa visão transpolítica de mundo vai trazendo algumas vantagens psicológicas e compreensivas da realidade comum. Só essa consciência já dá ao inteligente econômico um certo poder de mudar seu próprio derredor, conforme as novas visões. De repente, a escola pública tem sua utilidade. Suas relações com o governo têm seu lado bom. As religiões têm seu papel aproveitável. Suas atitudes pessoais são decisivas para modificar opiniões alheias, inclusive de quem se apresenta com más intenções, por serem ou se acharem representantes do “sistema sistematicamente mal”. Não que nada seja bom ou mal em si. O inteligente econômico sabe disso, não se ilude mais. Tem consciência de que o fato de alguém ser representante objetivo de “forças do mal” não quer dizer que ela seja também “do mal”. Sabe que não há sistemas “do mal”, por mais organizados que estes sejam. O que há são fontes inteligentes e suas decisões relativamente boas ou más. Toda decisão provém de alguma inteligência ou é instruidamente inteligente.
As decisões artificiais das pessoas jurídicas, das organizações e corporações que integram o sistema externo são decisões reflexas, automatizadas, mas sempre originadas de mentes e suas ideologias e seus pensares e sentires sobre a vida, sempre em constantes mutações linearmente progressivas. E a bondade ou maldade na relatividade das decisões depende muito do comportamento receptivo dos destinatários dessas próprias decisões, que são também pessoas inteligentes e seus eus-mundos, com liberdade de decidir sobre como recepcionar a decisão que fora tomada por outrem em relação a si.
 


[1] Qualquer mistura que contém álcool com teor suficiente para agir no sistema nervoso central provocando estado de entorpecimento e de embriaguez, geralmente causando viciação e danos físicos ou psíquicos com a overdose ou com a continuação do uso.
[2] Qualquer ritmo sonoro de batidas simples injetado pelos ouvidos através de aparelhos eletrônicos, normalmente de forma repetida e bastante alta, ao ponto de drogar viciadamente seus usuários, reforçado por letras erotizantes ou pornofônicas diretas ou de duplo sentido.
[3] Expressão utilizada a partir de janeiro de 2009, na guerra entre Israel e Palestina.
Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 17/01/2009
Reeditado em 07/02/2011
Código do texto: T1390125
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