A PERMANENTE MUTAÇÃO
Estou gostando muito de tuas visitas aos meus textos e por elas me apercebo que estás procurando compreender o teor dos mesmos. Contrariamente, se em tua fala poética parece-me necessário conter o derramamento vocabular para chegares à Poesia, nos “comentários” sinto que necessitarias falar mais abertamente. Não que necessite de muita falação, é que urge saber o que tu pensas para que se possa formar juízo apreciativo sobre a obra. Na fala por escrito – fora dos limites que a codificação poética exige – é muito importante perceber o que ocorre na cuca do confrade de Letras para poder ajudar na elaboração e crescimento estético de sua escrita literária. Sugiro que não faças o comentário da mesma maneira como elaboras o poema – na vertente derramada da inspiração – e, sim, primeiro digites a apreciação em “word”, para depois de bem pensado e revisado, emitires o discurso analítico. Com este proceder aprenderás a fazer mais do que a formulação intuitiva da "INSPIRAÇÃO". Com o auxílio de teu intelecto, no segundo momento do processo criativo, obterás bons resultados através dos cuidados advindos na “TRANSPIRAÇÃO”. É através desta combinação que poderás vir a fixar o texto, deixá-lo pronto para a publicação, tornando-o, ao menos naquele momento, definitivo em termos de formato. Em verdade, especialmente no caso da obra poética, esta nunca está pronta, porque o poema é matéria viva, em permanente mutação. Mesmo depois de aparentemente definido, ele continuará mergulhado no caldeirão fervente das ideias de seu criador. Não é fácil dar-lhe voz realmente definitiva. Isto exige tempo e paciência. É por este caminho que o amador poderá entrar nos sótãos da profissionalização. Se conseguir vencer os arroubos pontuais da palavra nascida da espontaneidade.
– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013/15.
http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/4515140