EU, AMANHÃ...
Nunca pensei em mim quando estivesse mais velha, mas o espelho sempre indiscreto, insiste em mostrar algumas mudanças que finjo não ver, tirando os óculos.
É curioso como a aparência é diferente da imagem que fazemos de nós sem olharmos no espelho.
Lembro-me de quando criança ainda, da primeira vez que me olhei no espelho. Confesso que demorou a me acostumar com minha própria imagem, um tanto assustada, como se fosse uma estranha repetindo meus gestos; mas depois de algum tempo tornei-me fã do espelho.
Hoje fiquei me imaginando quando eu for mais velhinha... uma anciã comum?
Tenho quase a certeza que não...
Serei uma vovozinha moderna, daquelas que adoram academia, mas sem exageros, apenas pra manter a cabeça e o corpo em equilíbrio.
Não serei chata, nem irão me ver falando sozinha, porque tenho a poesia e caso
isso aconteça, direi que estou cantando em versos e como adoro companhia o poema será para alguém muito querido.
Brincarei com meus netos como se fosse criança de verdade, afinal dizem que depois de uma certa idade, voltamos a ser crianças; mas vou aproveitar cada momento numa forma discreta de resgatar a pureza que tinha na idade deles.
Não vou me calar e me isolar do mundo numa casa de repouso qualquer, porque terei a eternidade pra repousar, então continuarei a defender meus ideais com voz ativa e se preciso gritarei pra me fazer ouvir, e se me chamarem de velha louca, daí eu ficarei louca mesmo, porque velha e louca é quem não tem idéias nem ideais...
Bom, pelo que me conheço, mais tarde, bem mais tarde, verei o mundo com os olhos da experiência e com o conhecimento suficiente pra dizer que nem tudo o que aparenta ser é...então, não se iluda com minha aparência, amanhã...
Não se julga o sabor da fruta por sua casca...