Nordestinês alagoano para falar de T-REX, medo e potes plásticos.
Recebo conselhos fantásticos, inclusive alguns são meus mesmo. Tal como Alice, no país das maravilhas, sempre me dou bons conselhos, o problema é que nunca os sigo. Paciência.
Recebi um a respeito da minha última crônica.
Me aconselharam a fazer um mapa, acordar, escovar os dentes e recomeçar, mesmo sem o medo que foi sempre a base das minhas conjecturas e armações e que a essa altura já gastei todo. Tá legal, o conselho é válido, e foi dado por alguém que me ama de verdade. Mas, eu vou fazer esse mapa como? Durmo e faço o mapa? Faço o mapa dormindo? Escovar os dentes tem a ver ou não, altera o resultado? E afinal, que é que conteria esse mapa, se meus continentes foram traçados pelo medo, e eu não sei mais onde está o medo? Ele acabou. Como farei para traçar continentes novos se eu não sei, além do medo que fronteiras há e se as há?
Essa criatura já me mandou virar a mesa, mas eu não consigo ver um objetivo prático em virar a mesa. Tá, eu virei a mesa e ai? Adiantou nada, veio um não sei quem e botou a mesa de volta de pé, pôs toalha e prato e copo e cerveja e batucou um pagode – ruim, por sinal – e pronto.
Um dia ele desiste de me dar conselhos, e se abusa (fica com raiva, em nordestinês alagoano) de fato comigo e para sempre (mas eu acho dificil).
O caso é que todos esses chavões, tal como o medo, já foram gastos, não tenho mais mesa pra virar, não tenho mais medo que sirva como desculpa, não tenho mais paus de barraca a chutar, nem promessas a cumprir ou a fazer, não tenho mais nenhuma dessas consolações que a mente cria.
A minha cabeça está seca e limpa como um velho osso de dinossauro. Aliás, tenho aqui um fantástico T-REX fossilizado, conservadíssimo. Onde vou arranjar desculpas para as coisas que não fiz, que não faço e que não farei?
Como me justificarei ante a evidência de que eu não vou mais longe do que isso, simplesmente por que não sei como e nem pra onde?
Por que a gente não admite logo que não sabe para onde está indo? Eu até um dia desses dizia e propalava aos quatro ventos que sabia, e eu NÃO sabia. Acho que nunca soube.
Durante muitos anos de minha vida, me achei o terceiro guru – ignoro quem sejam os outros dois, mas acho que o terceiro é bem legal – e me empenhei tanto nisso que vivia docentemente morta de cansada de ser o guru dos outros, que por sinal “tavam nem ai e nem chegando” para meus tão abalizados conselhos. Mas, era o medo quem dizia que se eu não fosse o guru de alguém não saberia para onde ir. Agora o medo foi embora. Lascou!
O grande esqueleto do T-REX está firmemente plantado na minha cabeça – não é pesado – não vira uma prateleira; acabei de jogar no mato (descartar, em nordestinês alagoano) meio mundo de pote, tampa de pote, panela, forma de bolo e coisas que não vou usar mais nunca. Não vai virar cabide, não tenho roupa suficiente pra jogar fora, mas também não tenho peças sobrando.
Homi! (em nordestinês alagoano) to divagando.
O fato é que se essa porcaria de fóssil de T-REX começar a me dar conselhos, eu jogo ele fora também.