QUANDO OS FILHOS NÃO SÃO BONS
QUANDO OS FILHOS NÃO SÃO BONS
Marília L. Paixão
Está todo mundo escrevendo qualquer coisa para as mães maravilhosas. Como já fiz minha boa ação e prazer de dirigir 13 horas e passar o último feriado com a minha, não vou escrever nada não. Talvez por este assunto estar rolando demais no site, quem sabe eu escreva sobre as mães que não são boas. Pode ser?! Quero uma confirmação primeiro, pois não quero ninguém me transformando em Isabela e depois me jogando pela janela.
Nunca se sabe! Ainda mais que eu moro no sétimo andar e senhoras de meia idade também podem ser vítimas de tudo quanto é coisa. Podem ou não podem?! Quantos andares possui o recanto das letras? Quantos loucos tortos ficam zanzando por ali fora de hora e todas as outras também. Afinal, doentes virtuais possuem até bom gosto, podem mudar de nome, de foto e rosto. Podem ser poetas um dia e sociopatas em outros e as mães..também! E todo sociopata tem mãe ou teve um dia.
Tem alguém correndo atrás de mim querendo me jogar pelo sétimo andar? Acho que vou deixar as mães más quietas no canto delas e deixar o pessoal só falar das boas... rs.rs... Não quero ser linchada ou chamada de mal amada, e outras coisitas que não sou. Na verdade tem uma semana que estou tentando recuperar meu bom humor.
Sequer consegui colocar em dia as leituras dos jornais que perdi. Guardei uns recortes de uns artigos que deixei para ler depois. Hoje num ônibus li o Carlos Heitor Cony falando mal das ex-mulheres que ele teve, mas falando mal só da aparência delas e tive vontade de escrever falando mal dele.
Que coisa feia seu senhor Carlos Heitor Cony! Onde já se viu falar mal no jornal que um monte de mulheres inteligentes e sensíveis como nós costumamos ler... Ir falar mal da aparência que tem hoje as pobres mulheres que o senhor já teve... rs.rs.. falar que uma engordou e que a outra está magra demais e que uma outra está mais ou menos como era, mas apenas com a cara um pouco amassada, como uma fantasia de carnaval depois do carnaval. Que ódio! Eu mulher de meia idade lendo aquilo de um cara culto, maravilhoso escritor arrasando todas as mulheres desta idade sem dó nem piedade. Não suportei e cutuquei minha colega e li alto para ela o trecho que dizia assim:
“Elas procuraram ser gentis comigo e eu fui gentil na medida de minhas possibilidades: pouco falei com elas, a fim de não cometer uma gafe ou involuntária grosseria. Creio que este silêncio, essa pressa no afastamento, foi recíproco: não me senti confortável com nenhuma delas e tenho certeza que o mesmo aconteceu com elas.”
Mas na verdade não era o Carlos H. Cony falando. Ele dizia no título do jornal que era a carta de um amigo aos prantos. Aquilo então eram as palavras do amigo dele. Pois pensem bem se por trás disso tudo não está ali o que ele pensa de nós mulheres depois dos 40. Afinal escrito lá ficou que a pele não mente que as mulheres quando tinham seus 25, ou 32 anos ainda possuíam a pele macia ao olhar, sensual ao tato, como uma fruta cheia de sumo e aroma. Neste prisma do Carlos Heitor Cony as mulheres de 50 não passam de frutas podres.
Fico aqui pensando será que ele ainda tem mãe viva? De qualquer forma essa crônica não é para ela. Ou será que as mães não têm lá muita culpa dos filhos que têm? Eu sei que depois que li isso e me senti uma fruta caída, pisada e colada debaixo de uma conga antiga. Pensei: para que usar o elevador e pular do sétimo andar? Não seria melhor entrar debaixo de um carro bem possante, bem bonito, tipo um 2.0 qualquer e morrer ali na porta do prédio sem bilhete nenhum para ninguém, justo eu que só quero o meu humor de volta. Amasso este jornal e quanto ao Carlos H. Cony e toda indelicadeza apenas bato-lhe a porta. Acho que fiquei imaginando como odiariam ler aquele artigo quaisquer das ex-mulheres que ele já teve.