Doralice Benevides Duarte
A cada dia vivido convenço-me de que não se pode mesmo parar o tempo, entretanto, quando se quer recordar de alguém ou de algum fato, pode-se retroagir no tempo utilizando-se da memória na busca de acontecimentos pretéritos. É justamente isto que ocorre comigo quando relembro um ente querido. Neste texto apológico, procuro prestar uma homenagem in-memoriam a alma de minha eterna tia-madrinha Dorada, que me viu nascer, cujo nome correto é Doralice Benevides Duarte. Seus ancestrais mais antigos que se tem notícia era o português, Antonio Soares Rodrigues e a brasileira, Jesuína Guimarães Toledo, também meus tataravôs. Doralice era filha de Dionísio Ferreira de Sant’Ana(baiano) e Londina Soares Benevides(Jataiense). Essa madrinha marcou profundamente minha vida. Nascida em Mineiros-Goiás, ela ajudara seus pais em trabalhos de lavoura na roça e como ela era uma das mais velhas da irmandade, tinha que pegar duro na enxada para ajudar seus pais no sustento da família. Era na verdade uma guerreira. Casou-se com Múcio Maurício Duarte e teve com ele 7 filhos e ajudou a criar mais 4 filhos de seu marido em casamento anterior. Tenho por ela verdadeira admiração e não preciso nem dizer que ela era o meu maior xodó neste mundo.
Muitos fatos ocorridos entre eu e ela e o afeto recíproco que mantínhamos, dá-me todo o crédito necessário para invocar seu respeitoso e bendito nome, e dizer que ela partiu desse mundo, mas continua a povoar meus instantes e momentos. Basta afirmar que cada vez que encontro seus inúmeros filhos, meus primos, seus netos e bisnetos; sinto, como se ela quisesse dizer-me para felicitá-los por ela. Nessas ocasiões, deixo escapar alguma lágrima caída sem minha permissão, porém imperceptível aos olhos desses seus descendentes.
Jamais poderei esquecer alguns desses fatos, como por exemplo, em época de inverno, ela confeccionava jaquetas de lã exclusivamente para mim. Eram lindas e eficazes no combate ao frio. Como se esquecer de uma pessoa dessa ? E por assim ser, relembro que há muitos anos, lá pelos idos do ano de 1.953, ela residia numa fazenda na beira do Rio Doce, localizada entre as cidades goianas de Rio Verde e Jataí, sendo que distava dessa ultima cerca de 60 quilômetros. Nessa época a estrada que demandava à essa fazenda era de chão bruto e eu percorria esses quilômetros montado num cavalo para atender seu convite para passar com ela alguns dias. Eram dias maravilhosos e inesquecíveis, principalmente pelas belas pescarias que realizávamos naquele piscoso Rio Doce.
Um acontecimento mais recente foi que descobri em minha carteira uma oração bem guardada escrita por ela de próprio punho, denominada de Oração de São Cristóvão, contra morte por acidente. Eu nem me lembrava mais dessa oração, porém, após um acidente automobilístico que sofri no qual falecera minha esposa, dei com a referida oração. Naquele exato momento ao verificar as palavras escritas nessa oração, lembrei-me de minha doce e bondosa madrinha que, talvez por sua fé, ajudara para que nada de grave acontecesse comigo no referido acidente. Por isso tudo, elevo meu pensamento às alturas e, numa interação cósmica, clamo às potestades divinas para auxiliarem-na em sua jornada de luz rumo à eternidade.