Filhos não autorizados
O mercado de trabalho atual parece que não permite que as mulheres tenham filhos, já repararam? Em entrevista nas agências de recursos humanos e até diretamente nas empresas, uma das primeiras perguntas: “estado civil?” – “solteira” – “ tem filhos?” – “não!” – “Ah não que seja ruim ter filho, mas é que criança fica doentinha muito seguido e precisam da mãe por perto o tempo todo! Sabe como é... (risadinhas do entrevistador ou um esboço de sorriso)”. Não, eu não sei como é, será que podem me explicar? Como se o pai não pudesse cuidar também. Será que os homens sofrem esse tipo de preconceito? Tenho minhas dúvidas!
Os pais, em sua maioria, só participam da reprodução, o ato sexual em si, porque da educação, o acompanhamento na escola, cuidados médicos e etc, eles nem sabem por onde começar e sobra tudo para as pobres mães, que nem um emprego digno conseguem, devido ao fato de terem filhos. Claro que nisso tudo várias outras coisas são levadas em consideração, como por exemplo, a escolaridade da coitada, que provavelmente teve de largar tudo para cuidar do filho, o qual teve de assumir sozinha, pois para ela é tudo um pouco mais difícil, para não dizer que os homens não sofrem lá grandes coisas, e se me disserem que sofrem, sinto muito, terão de me provar. Eles não ficam “grávidos” nove meses, não sentem enjôos, não vomitam pela manhã, tarde e noite, não sentem azia, não ficam inchados, não tem mudanças de humor repentinas, não deixam de comprar coisas pra si para dar aos filhos, não precisam ficar preocupados com o corpo, se será rejeitado ou não pelo aparecimento de alguma estria.
O mercado de trabalho parece querer contratar mulheres estéreis, ou que simplesmente não queiram ter filhos, se já for casada então, ou separada, é um grande problema. Mas se casar depois de estar lá dentro não há problema, nem se engravidar. Se quando perguntarem sobre nossos pais e a resposta for “separados” meu deus, cai o mundo! Tudo parece chocar demais as empresas, eu não sei qual o problema de sermos pessoas, afinal, quem está ali, do outro lado da mesa, não é também uma pessoa? Ou será que muito me engano?! Mas ao mesmo tempo em que as empresas não querem que a gente seja MULHER, elas nos exigem isso! Um exemplo bem prático do que falo, temos que estar sempre bem maquiada, unhas perfeitas, cabelo solto, sorrisos. Ser mãe também é ser mulher, então qual o problema?
Eu não tenho filhos, portanto não sei tão bem como é ter de sofrer essas coisas todas, já consegui terminar meus estudos, mas lembro de como minha mãe me criou com dificuldades e também a vi criar meu irmão sozinha, então posso fazer certa idéia das coisas que uma mulher sofre e pode sofrer. Perder a apresentação do dia das mães do seu filho na escola, não estar presente em um grande acontecimento como a primeira vez que se fala a palavra “mamãe” são apenas pequenos pedacinhos da vida que vai se perdendo aos poucos e que não tem como recuperar nunca mais.
Somente hoje eu ouvi várias vezes a pergunta “tu não tem filhos né?” só pra uma entrevista! Fala sério! E se eu tivesse? Não seria qualificada o suficiente para o trabalho em questão? Será que seria para algum trabalho então? Isso me revolta, de verdade, ao extremo! Mas lógico, essa é a MINHA opinião. Costumo ser muito sincera e honesta quando escrevo sobre algo. Saí da entrevista com essas idéias todas e essas dúvidas povoando minha cabeça, me importunando o dia inteiro.
O preconceito está presente no nosso dia-a-dia de diversas maneiras e acho que essa é uma delas! Temos que mostrar que somos mulheres, sim, mães, com certeza, mas acima de tudo, somos pessoas e precisamos de dignidade e trabalho e também que os homens têm de assumir seus papéis para com seus filhos. Ter filho não é ter um problema é ter uma bênção e uma felicidade a mais quando chegar em casa no final do horário de expediente do trabalho. Filhos não são para atrapalhar nossas vidas e sim para alegrar e não é por causa deles que nossa vida deve congelar e o tempo passar como se nada estivesse acontecendo. Pode-se estudar, trabalhar e muitas outras coisas, é só querer, é só deixarem sermos mães e mulheres, como queremos e podemos ser!