A ESPERA DE UMA ATENÇÃO MINHA
A ESPERA DE UMA ATENÇÃO MINHA
Marília L. Paixão
Hoje os meus olhos estão cansados para o mar
Estão cansados para a chuva e para a inteira rua
Hoje os meus olhos estão cansados até para os lençóis
Sequer querem ficar debaixo das cobertas
Estão cansados da espera do ouro do mundo.
Meus olhos estão cansados para te querer
Mas para te esquecer também estão
São muito carentes estes olhos que não ficam sem pão
Mas fitam a cesta de frutas onde não falta a laranja
Que se fosse partida seriam duas bandas
Meus olhos fitam o limão desacordado sobre a mesa
A maçã esquecida, ainda bonita e ninguém comeu a ameixa
Meus olhos não estão cegos, mas não querem ver melancias
E ontem enquanto transformava um bife enorme e um tomate
Em bons companheiros de dois ovos pensou que faria uma crônica
Mas os olhos não tiveram tempo, apenas vontade
Mas não faltou pimenta
Meus olhos queriam mudar minha ciência, meus corredores
Meus amores enfileirados a espera de uma atenção minha
Alô, sister!
Ando de olhos fechados quando choro ou quando não digo que te adoro
Alô, brother!
Será que todo o mundo é assim meio calado ao falar de amor pelo outro?
Eu sei que eu pulo um rio quando não posso atravessar um mar
Eu sei que morro no mar quando não posso pular um rio
É assim que choro, que vivo, que rastejo meu cansaço em horas aflitas
E o notebook que chegou ontem mal abri, apenas sorri para o azul da capa
E lhe disse:
Será em você que depositarei as páginas do meu livro
Serão muitas páginas, muitas páginas, muitas...
Mas meus olhos estão cansados para lhe dizer: muito prazer!
Enquanto isso muitos dirão que isso não é crônica
Então direi: também não é insônia!
É apenas o cansaço da fronha
É apenas o começo de mais um dia.