POR CIMA DO TRONCO,
POR BAIXO DA CHUVA...
POR CIMA DO RIO,
POR BAIXO DE TUDO...
Ao sair do Rio de Janeiro em direção ao interior de Goiás não imaginava o que me aguardava por lá, já que pensava que nem por lá ficaria muito tempo...
O combinado era sairmos rápido do Rio, 'visitarmos' um amigo num tal garimpo de esmeraldas e em dia marcado e agendado, meu amor do passado, se apresentaria na PM de Brasília onde incorporaria e eu trataria de transferir minha faculdade de jornalismo da UFF para a UNB e já tinha “amigos” que tratariam disto para mim...
O que poderia dar errado?
Nada.
Tudo estrategicamente acordado entre eu e meus “amigos”, já que eu sabia...ahhh, eu sabia...Que O MEU AMOR, não tinha esta preocupação.
Fui.
A viagem foi Mágica...
Tantas lembranças, travessuras, tantas trapalhadas para chegarmos ao destino final apenas com dinheiro de ida...
Dinheiro, diga-se de passagem, que eu levantei...hummm!
Tá anotado no caderninho até hoje, viu fofo?
E se, um dia, quem sabe, talvez, todavia que nos leva de uma forma ou de outra a mesma VIA, pararmos para calcularmos matematicamente o que um deve ao outro em espécie, devidamente reajustados para atual moeda corrente nacional, sem juros que não sou agiota, mas acrescentando aspectos físico-emocionais-transcedentais-etc e tais e ao final lançando mão da fórmula da Teoria da Relatividade de Einstein para dar ponto final à questão...hummm...Dá até pena de você, My Ex-X-Man-Love...
Por que não vem acertar esta conta???
Um dia, não se preocupe, desarmada irei até aí para nossa conversinha final...Quem sabe, né?
Se o Tempo me der Tempo, irei sim!
Caso de amor-financeiro-emocional-fatal-escriturário deixa pra trás sem solução definitiva.
Ao menos com isto há de concordar.
A aluna superou o mestre?
Frase velha! Pense em outra pra quando e se eu chegar...
Passei por 1001 sufocos por lá e sabemos disto.
Saí de todos.
E de um, admito por amor à justiça, foi você a me ajudar!
Quando chegamos e nem entrarei em detalhes do quanto foi difícil chegar a tal lugar, nos deparamos com o imprevisto mais absurdo de toda a viagem...
Chovia muito.
Era um temporal!
Invernada no Cerrado...Invernada em Goiás...
O ônibus que finalmente nos levaria ao ponto final parou.
A ponte havia sido arrastada pela força da Natureza.
A ponte que eu atravessaria cansada, mas segura por cima do rio.
Saltei do ônibus antes mesmo de você e debaixo da fúria da chuva que caía, olhei para baixo.
Para a fúria das águas do rio.
E a ponte?
- Cadê a ponte, seu moço? - perguntei ao primeiro que vi ao lado.
Sabia a resposta.
Mas não nasci pra morrer afogada, nem pra ser boi-de-piranha e estava mesmo assustada com o tronco de árvore que via no local onde deveria estar a ponte e que eu teria que atravessar!!!
- Você vai na frente! - disse pra ele.
- Nada disso. Desta vez você está errada! Não vou, não posso deixar você cair...Me dá sua mochila! Eu carrego. Vou atrás de você tomando conta de cada passo que der e pronto pra te segurar, ok?
- Posso confiar?
- Vai!!!Não pensa...Vai!!!
Mal conseguia enxergar o próximo passo que teria que dar rapidamente...
Míope, tirei os óculos que atrapalhavam ainda mais molhados por tanta água que dos Céus caíam.
- Não enxergo!!! Não vejo nadaaaaaaa!!!
- Vaiiiiiiiii.....!!!Sua intuição!!!Use sua intuição!!!Você consegue!!!Tô colado em você...
- Tenho medooooooooo!!! - gritava a cada passo que dava sobre o tronco sem enxergar o final...
- Não!!! Não temmm!!!Nunca teve!!! Pára de frescura e vaaaaaaai!!! Tá chegando, meu amor...
E de repente, com o coração aos pulos e a alma saindo pela boca, estendi os dois braços pra frente, usei meus passos de bailarina e em dois passos, duas mãos vindas da escuridão de quem nada via pela miopia e pela chuva inacreditável que caía, seguraram-me firme e me puxaram para o outro lado.
Caí exausta na lama, no chão em total consumição sem derramar uma só lágrima, apenas sorrindo enquanto meu amor me beijava e abraçava...
Music by Roberta Miranda - BRASIL