Meu dia de TIRADENTES

Hoje acordei Tiradentes. Mas não se trata de acordar a qualquer preço a linda cidade mineira de tempos históricos. Nem se trata também de conluios sobrenaturais para acordar Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira, no dia de sua morte.

Eu, sim é que acordei o TIRADENTES que habita em mim.

Aquele meu lado que se revolta com as injustiças.

Tiradentes é imagem que cabe perfeitamente no desenrolar da nossa história e de outras histórias. Ontem como hoje, a tirania, a prepotência e a falsa autodeterminação não vêm só de cima para baixo. Anda nas laterais, nos entremeios de gentes. Hoje se esquartejam idéias e ideais, e escondem os restolhos em frios calabouços, ou sepultados em lugares ocultos, para que seu espírito em chorume vaze e contamine outros seres. E sujam memórias e transformam tudo em pizza.

Apesar se sermos racionais, continuamos animais brutos em nossa marcha pelo planeta. Vamos devastando a natureza, promovendo um ecocidio paulatino pela ganância de capital – Amazônia é prova disso.

Abro o jornal e vejo assassinatos brutais e insolúveis. Nem os mortos descansam. As crianças Isabellas que não descansarão o sono da morte, com seus assassinos impunes pelas ruas. E quantas outras que não descansam e, nem sabemos, estão aí em arquivos policiais ou simplesmente na lista dos desaparecidos, nas lembranças da família?

Em outras páginas,os que lutam pelo poder esmagam quem se atreve a atrapalhar seu caminho, sejam jovens preparados para a guerrilha, sejam jovens desprevenidos, sejam tolos como eu que escrevem poemas ou levantam a voz em brados. De alguma forma sempre sufocam as vozes, embora as palavras escritas e as guernicas continuem mostrando acontecimentos. Nossa América Latina vem sangrando desde lá de cima, e se transformando num rio de sangue. Outros países do mundo, em outros continentes, o panorama não é diferente. Quando Jerusalém será apenas a terra de Jesus? O Oriente Médio não descansa. Quando cochila vem alguém de fora sacudi-lo. A China que invade o mundo com seus produtos "made in china", faz também sua ronda interna de opressão. Dalai Lama sabe disso.

As diferenças sociais continuam apontando a exploração capitalista. Até no próprio capitalismo há exploração: basta compararmos os sistemas bancários com o sistema do empresário de pastel ao lado. Se todos cobrassem taxas, ninguém comeria pastel, comeria o dinheiro mesmo, que é um caro bem de consumo.

E por aí vamos. Eleições, corrupções nas altas esferas da direção dos países, vendas de voto.

Nos cadernos de diversão os filmes macabros, baseados em vida real são a saída para o lazer. Que lazer, hein!

Futebol, nossa grande paixão continua grande paixão, mas o jogo não. Mas o coração não se importa. Há coisas piores.

No meio de tudo, um sorriso escapará para ser a flor de lótus. Educação e saúde quem sabe um dia serão de graça e de nível. E livros também. Salários dignos. Fartura. Terra produtiva...

Os homens se assemelham no tempo e na história. Antes não tínhamos tal conhecimento, e muitas vezes escondiam os dicionários para que não soubéssemos a força de uma palavra quando usada contra o próprio homem.

No rastro da história, tanta coisa pior que hoje, e eu me sentindo TIRADENTES quero lançar aos quatro ventos sementes de liberdade. E quem sabe floresçam Amanhãs de Paz. Quimeras? Utopias? Quem saberá...

Angela Togeiro desde Belo Horizonte

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