Isso mesmo no seu tempo!
Antes de começar a ler esta crônica pense bem, mas muito bem mesmo. Você costumava ler jornais quando criança e achar que era realmente importante estar atualizado, pensando no seu futuro e, por exemplo, que serviria para enfrentar o vestibular? Óbvio que não. Quando crianças, pensamos muito em querer ser adultos e por isso, meninas brincam de casinha e são mamães e meninos defendem o mundo do perigo e dirigem carros com um controle na mão.
Acontece que isso não faz da criança um adulto. A mídia interfere muito no nosso psicológico, por isso tenho muito orgulho da educação que recebi. Quando eu era criança, só assistia programas pra criança. E por isso gostei de fazer coisas de criança. Jamais passou pela minha cabeça ser gente grande. Mentira, passou sim. Sabe como eu encarava isso? Muito simples. Eu era uma criança que queria trabalhar com criança.
Meu pai havia me dado um gravador, que eu arrastava pra todo canto. Ótima pedida, foi aí que eu conquistei minha primeira estação de rádio. Mas, pra criança. No meu rádio intitulado “Rádio da Criança” e que depois convidei mais alguns amigos da rua sem saída, pra participar e apresentar comigo dentro da minha garagem. Falávamos de nuvens de algodão doce e raios de sol feitos de chiclete. Inventávamos músicas que até me pego cantando o refrão hoje. Gravamos cds e fazíamos o maior sucesso. Na nossa rádio além da nossa música, só passávamos música de criança também. Xuxa, Angélica, Mara Maravilha eram sempre bem-vindas, inclusive pra dar entrevistas.
Juro pra você. Nunca gostei de brincar com carrinho e de jogar futebol. Eu gostava de gravar meu som, ás vezes ligava o gravador quando meu pai estava tomando banho, por que ele sempre cantava no chuveiro. Pena, eu não ter nenhuma daquela fitas. Em casa eu não brincava muito, assistia televisão ou plantava feijão num pote de iogurte com algodão.
Depois que aprendi a ler, comecei a comer todos os livros que tinha em casa, mesmo sem entender o que alguns queriam dizer. Por sorte, tenho um primo que me dá livros sempre que me vê. Na rua, gostava de brincar de queimada, pega-pega, esconde-esconde, corrida e até de brincadeiras que a gente copiava da televisão ou que inventávamos.
Quando eu tiver meus filhos, vou fazer da mesma forma. Criança tem que gostar de coisa de criança, mas confesso que vai ser uma tarefa difícil. Tiro pelo meu irmão mais novo, ele brincou na rua por pouco tempo, depois correu pra frente do computador e do videogame. Pode ser que seja feliz desse jeito. No entanto não consigo relacionar um jogo eletrônico com uma guerra na lama de deixar nossa mãe de cabelo em pé.
Obrigado por todas as pessoas que se viram nessa crônica, você pode nem me conhecer, mas já faz parte da minha vida.