AMIGOS PERNILONGOS!

Há tempos, pude perceber um aumento muito considerável de novos “habitantes” rondando livremente pelos 71 m² do meu apartamento situado próximo dos arredores centrais da cidade de Porto Belo-SC.

Pois bem, dias atrás estava eu me aprontando para de fato poder descansar tranqüilamente em um sono realmente merecido. Por volta das 23h, deito-me à cama, estico cuidadosamente o lençol e ajeito com os mesmos cuidados o travesseiro, milimetricamente selecionado de acordo com a altura de meu pescoço. Já se passam quarenta minutos, e logo pude perceber com um certo desagrado, alguns zumbidos que invadem sem permissão meu ouvido, proporcionando-me uma sensação extremamente desagradável. Tento em vão, movimentar meu corpo em direções opostas, numa tentativa de neutralizar o inimigo. Novas medidas são tomadas, o lençol antes endireitado como uma roupa recém passada, logo ganha outros moldes, servindo-me de proteção contra o invasor.

Injuriado, acordo! Tento abanar sem sucesso minha mão na direção de meu rosto, sem perceber, abro os olhos vermelhos me proporcionando uma visão extremamente perturbadora, logo percebo, me falta algo, um instrumento importante, meus óculos.

Estico minhas mãos em direção aos meus óculos, não alcanço, a raiva invade meus sentimentos. Levanto-me a contra-gosto, posiciono meus pés descalços no chão, um a um, lentamente sinto a chão frio.

Caminho apressando os passos em direção ao interruptor, a luz se acende, meus olhos se fecham respondendo ao estímulo visual, finalmente alcanço os óculos, posicionando-os em meu rosto, que demonstra sinais ríspidos contra o sono recém despertado.

Os zumbidos que serviram de despertador ao meu sono, já não são mais perceptíveis pelas lentes dos meus óculos. Procuro agora pelo dono dos zumbidos, isso mesmo, os pernilongos invasores, arruaceiros e infelizmente, destemidos.

Num ato de loucura e desespero, começo a dar pulos ridículos na tentativa de alcançá-los junto ao pé direito do meu quarto. Com sorte e, claro, um pouquinho de técnica desenvolvida ao longo dos anos, pude acertar um dos valentes soldados daquele esquadrão selvagem, malditos vampiros sugadores de sangue. Logo percebo um riso tímido em meu rosto, e passo toda a madrugada derrubando um a um, com armas e tecnologias de guerrilha.

Finalmente resta apenas um, penso ser ele o comandante daquele ataque maldito ao meu sono inocente, infantil. A raiva novamente ganha o meu rosto – “vai ser uma luta justa, demorada e cansativa, que vença o melhor” – penso em meio a outros problemas que me vêem a cabeça justamente naquele momento.

Corro atrás do comandante como um desvairado raivoso, cerco-o num beco, ele não tem escapatória. Nesse momento penso com prazer na vitória, minha boca revela um sorriso assustador. Sem pensar, faço um golpe único e certeiro, percebo seu corpo desfalecido que caí lentamente no chão, finalmente o triunfo. Volto ao meu habitat contente, posiciono meu corpo na beirada da grande cama, o sono deve se aproximar logo...

De repente percebo um ruído contínuo, forte, realmente aquilo me incomoda, sou forçado a abrir meus olhos e logo chego a uma terrível conclusão: aquilo não passará de um sonho, ou melhor pesadelo...o inimigo continua a me atacar!

Ulisflávio Evangelista
Enviado por Ulisflávio Evangelista em 13/04/2008
Reeditado em 27/02/2009
Código do texto: T944023