Tem um papelzinho no bolso do meu marido... E desta vez eu abri!!
O dia era propício para desvendar os mistérios.
Quem sabe acordar para aqueles fatos que todos enxergam... Menos a esposa.
Pois acontece, que a oportunidade perfeita se apresentava naquele momento. Bem ali ao alcance de suas mãos.
Bastava abrir a porta, percorrer aquele corredor comprido. E pronto, estaria frente a frente ao roupeiro do marido.
Melhor de tudo bastaria estender a mão para a camisa preta. Na segunda porta. No terceiro cabide. E dentro do bolso, tinha certeza, estava o famigerado papelzinho do marido.
Aquele que ele escrevera na sexta feira Santa, por ocasião da confissão.
A confissão de Páscoa foi diferente na paróquia que a família freqüentava. Munidos de um papel e caneta todos escreviam seus pecados. E depois era só ler para o Padre, seriam absolvidos mediantes uma pequena penitência, ou grande dependendo do tamanho do papel.
Bom, o fato é que depois de acabada a cerimônia o marido havia guardado o papelzinho ali no bolso da camisa.
Ele nunca verificava os bolsos antes de guardar suas roupas, incontáveis vezes papeis realmente importantes acabaram na máquina de lavar roupa.
Pois bem. Atravessou o corredor fracamente iluminado, e estava cara a cara com o roupeiro preto de portas maciças...
Nem em sonho iria desistir de abrir, pegar a camisa e ler o papelzinho...
Estava todo enroladinho, bem no fundinho do bolso. Como se socado lá para nunca mais ser encontrado.
Aos poucos e com imenso cuidado foi desenrolando a bomba... Papel branquinho, caligrafia segura e bonita. Limpa e clara. Um único parágrafo.
E nada, nada revelador.
Não adianta, no quesito falar tudo e não dizer nada o marido era perito.
E ainda estava para nascer alguém que conseguisse descobrir seus mais recônditos segredos. E por que não dizer falhas, pecados, maus passos?
A prova de tamanha perspicácia em esquivar-se de assumir sem sumir estava ali, bem naquele papelzinho. Bem ali naquele parágrafo. Que dizia assim:
- Perdoa Pai, pelas vezes em que agi em desacordo com teus mandamentos.
Como assim? Quais mandamentos? O primeiro, o sétimo ou todos?
Perdoa por ter roubado? Ou será que, por ter cobiçado a mulher do próximo? Perdoa pelo quê?
Especificamente, ela queria saber!
Depois disto, passou a estudar todos os mandamentos!!
A fim de ver mais precisamente, a qual deles ele estava se referindo.
E mandamentos não são o que parecem...
Para cada um deles à muitas implicações! Desistiu pois,nem em meses de estudos conseguiria tentar adivinhar sobre qual, deles mais especificamente a confissão se referia.
E também não achou que seria relevante. Pois teve o cuidado de observar o tempo em que ele levou rezando a penitência imposta pelo Padre, ao terminar a confissão.
Ou ele reza muito rápido, ou era duas ou tres orações no máximo.
Melhor deixar para lá... Se Deus o absolveu, quem era ela para julgar?
O papel voltou para o bolso... Mas a dúvida? Esta permaneceu... Podem ter certeza!!