IRMÃO CAMARADA
Lucília trabalha há muitos anos numa prefeitura e está quase na época de aposentar-se.
Há pouco tempo, ela recebeu a triste notícia do falecimento de um colega, muito querido, que a deixou abaladíssima.
Imediatamente, a mulher informou-se do endereço do velório e partiu para lá.
Ao chegar ao cemitério, haviam três capelas ocupadas e ela entrou na primeira.
Sem coragem de se aproximar do caixão, Lucília ficou sentadinha, pensando e chorando:
-Coitado! Tão cheio de sonhos! Foi-se embora o meu amigo de fé, o meu irmão camarada! Éramos tão unidos! Que pessoa boa! Tão prestativo! Ríamos e chorávamos juntos! Que tristeza, meu Deus! Que falta vai me fazer no serviço!
Depois de tomar coragem, enxugou os olhos com um lencinho, aproximou-se do esquife, começou a acariciar o rosto do defunto e exclamou:
-Meu Deus do Céu! Como ele está pretinho!
E virando-se para uma mulher, perguntou:
-Foi a doença que o deixou escuro?
-Não! Ele sempre foi assim!
-Ah, mas quando trabalhava comigo, na prefeitura, ele era clarinho!
-Mas ele nunca trabalhou na prefeitura!
-Ué!!! Ele não é o Levi?
-Não, senhora! É o Sebastião!