DAS COISAS QUE (AINDA) NÃO FIZ

 

            Nos últimos dias tenho feito um balanço de minha vida (coisas de quem já viveu quase meio século) e percebi que tenho uma listinha de coisas que ainda não fiz. Por exemplo: ainda não concluí o curso de Direito, nem fiz o curso de alemão; ainda não fiz a tão sonhada viagem a Grécia, embora conheça suas ruas, mares e seu ar como um nativo (é que sonhei tanto com essa viagem, li horrores sobre tudo que diz respeito à Grécia que me sinto parte dela); nem dei um abraço em Pedro Bial (esse desejo é anterior ao BB).  

            Também não fiz a biblioteca de meus sonhos, um espaço amplo, arejado, com cheiro e cara de leitura; não namorei em Veneza, nem visitei o Vaticano, não tomei café em Paris; não joguei fora algumas fotos horríveis; não assisti a um show de Chico Buarque de Holanda, nem de Emílio Santiago. Zico aposentou-se e eu não fui vê-lo jogar. Não segurei a mão do Papa, embora tenha ficado muito próxima dele; não fui assistir Titanic no cinema e quando assisti em casa não gostei. Não li Paulo Coelho, nem pretendo fazê-lo. Também não li livros de auto-ajuda, confesso que tentei, mas... Não deu.

            Não li Pollyana Menina, até tentei, mas aquele “faz de conta” dela me enjoava, um dia ainda vou ler e, quem sabe, agora eu faça outra leitura! Não fiquei chocada com os livros de Adelaide Carraro (li todos, escondida, é claro), não recomendo, mas a curiosidade era enorme. Não fiz primeira comunhão nos moldes tradicionais. Não brinquei de bambolê, nem andei de patins. Ainda não acertei na mega-sena. Não comecei a fazer caminhada, nem hidroginástica.

            Das coisas que não fiz por opção não sinto falta, as que deixei de fazer por preguiça (o pecado mais difícil de abolir de minha lista) ou comodismo vou procurar corrigir, outras ainda quero poder fazer, mas descobri que fiz mais do que sonhei e, embora algumas coisas sonhadas ainda não tenham sido realizadas, já realizei muitas com as quais nunca havia sonhado, e isso tem um sabor especial. Muito do que sou, ou tudo, é resultado, também, dessas ausências. A mulher que amadurece, ainda tem muito daquela menina interiorana, cheia de alegria e sede de aprender, da adolescente que sonhava em mudar o mundo, que acreditava na justiça, no ser humano, na vida.  

Hoje a mulher já consegue saber até onde seus sonhos podem ir, já conhece (?) os limites de seus desejos, já conheceu a face negra da vida, conviveu com a dor da perda e da traição, mas continua acreditando nas pessoas, amando, dando o melhor de si e tentando melhorar, pois sabe de seus defeitos (mais do que gostaria), suas manias, sua limitações, mas essa mulher se recusa a desistir de lutar por tudo que acredita e continua tendo sede de saber e de justiça.

O que não fiz, também, me ajudou a ser o que sou. Foi útil.  

          
Da Serie: Mulher Madura !?     

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 02/04/2008
Reeditado em 27/06/2008
Código do texto: T927853
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