CONCLUSÕES DE ESCRITOR
CONCLUSÕES DE ESCRITOR
Marília L. Paixão
Havia começado a escrever sobre a tradução de uma carta e a inspiração rendeu pano para as mangas e novas calças. No decorrer da costura, e olha que nunca fui de costurar nada, notei que a linha começou a rebentar quando a carta de amor trazia um monte de desaforos. Muitos dos leitores viraram a cara e abandonaram a carta pela metade. Acho que morreram de pena da mocinha da história.
Ainda assim muitas pessoas queriam saber no que ia dar aquela peça depois de produzida. Na verdade já era um conjunto! Pensar que quem tinha sido costureira era minha mãe! Mas agora eu teria que concluir a peça, o conjunto, o que fosse. E enquanto pensava fui costurando uma idéia aqui e outra ali. Aquele conjunto ia acabar virando um macacão! Ainda bem que não tinha bainha, barrinha, preguinhas, nada disso! Alguém sugeriu um elástico! Ah não! Aí já é demais! Eu canso dos assuntos! Mas que podia ser, podia ser, mas pelo contrário resolvi encurtar a coisa. Nada de elástico! Essa roupa está me consumindo. Sem contar que nunca gostei de fazer traduções para fora. Imagine uma reunião de costureiras palpiteiras no que não ia dar?!
Mas fui ficando feliz com os comentários! Afinal, eles vinham das pessoas mais inteligentes! Fiquei pensando se as pessoas mais sonhadoras eram aquelas que tinham ficado indignadas como Imaginaram que Kelly ficaria e rasgariam também a carta. Acho que pegaram minha costura e pensaram em esfregar o chão com ela, de tanta raiva. Como não poderiam arrebentar meus sofridos pontos e cada tempo gasto com eles resolveram apenas irem embora.
Fiquei então pensando enquanto terminava ou não minha costura na maquininha pensante se eu tinha sido muito má com essas pessoas sonhadoras. Será que elas mereciam um príncipe?! Já que não encontramos um príncipe para nós mesmos ficamos idealizando um para o próximo? No fundo, no fundo queremos que todos sejam felizes mesmo com tantos infernizando a vida dos outros?! Rs.. RS..
Será que uma pobre escritora como eu se sentiu como um autor de novela que após pesquisa pública decide o que fazer dos personagens? Fiquei um pouco contrariada, mas pensando se acabaria por alegrar meus leitores por mais que eu seja uma pessoa realista até debaixo dágua! Eu sempre penso que quem pula na água funda para aprender a nadar sozinha corre o risco de morrer afogada e não o de ser salva por nenhum bonitão!
Na dúvida sobre o final da carta fiquei pensando se aquele dilema estava entre o que faria uma obra ser comercial ou não. Qual é a linha que separa o querer ser lido do querer ser vendido? No caso nosso aqui no recanto, pensamos mais em quem já sabemos que vai nos ler. Não há nenhuma relação comercial. Tem umas pessoas que nós já sabemos de antemão que qualquer coisa inteligente será bem vinda. Não estou querendo dizer que este é exatamente caso da minha escrita, mas costumo misturar um pouco de tudo que sou e penso nos meus textos e dá no que dá né?! Se eu fosse burra nem escreveria!
Mas com este lance da carta de amor, apareceram leitores não sei de onde e fiquei pensando onde eles tinham ido depois que diminui o amor da carta. Fiquei com um pouco de peninha deles. Será que eles estavam esperando por uma carta modelo? Fiquei aqui com os meus botões. Eu que não sei ser modelo de nada! E tinha a missão de terminar aquele conjunto. Costura para lá, costura para cá. Socorro mãe! Quase costurei meu dedo! Também o que estava fazendo eu naquela história! Eu não tinha que ser a tradutora. Eu não tinha que estar ali.
Por estar em cena, o fim da trama foi ficando complicado. Afinal, eu teria que ser boazinha e imparcial. Arrumei meu jeito e meio injuriada com aquela história resolvi dar um final feliz para ela. Mas teria que ser um final feliz diferente, ou a tradutora não se chamaria Marília. Sem falar que eu também fiquei com pena da Kelly... rs.rs.. Mulher é mesmo bicho besta!
Concluindo, tradutor sofre, escritor sofre, imaginem as costureiras! Vida boa mesmo têm os leitores. Lêem quando querem o que querem e largam quando querem e nem precisam explicar o porquê. Mas se fosse um livro, teriam levado para terminarem de ler depois?