ESTAÇÃO DA LUZ
Início de um novo dia. O sol tímido iluminando uma massa de humanos que seguem os trilhos do cotidiano. Dentro do metrô, observo com calma o mau humor de quase todos os passageiros. Os que não estão com a cara amarrotada dormem. O aperto é grande, o ar que se respira fica pior com o escuro do túnel. Arrisco uma conversa rápida com a senhora ao meu lado, mas ganho uma carranca em troca do "oi" que mal comecei. As estações são vomitadas pelo som ambiente, a voz faz acreditar que as palavras cuspidas sem vontade alguma passam despercebidas por todos. A moça de pé não consegue esconder seu constrangimento por estar sendo humilhantemente desrespeitada. Tudo ali parece tão normal a todos, tão rotineiro quanto o abrir e fechar de portas entre as estações, penso em descer por já ter visto o bastante, mas ainda não é hora. A minha frente uma garotinha está segurando a mão de seu pai, enquanto sentada. Tenta, com esforço inútil tocar seus pés no chão, eu meio que hipnotizado pelo pêndulo dos seus pés, só volto a realidade quando escuto sua voz, em meio a um sorriso que não cabia em seu rosto dizendo: PAI... PAI... O MOÇO TAMBÉM ESTÁ RINDO... Agora sim, é nesta estação que eu desço.