Tem um papelzinho no bolso do meu marido...
Na semana passada acordei com uma missão.
É isto mesmo. Assistir uma missa bem grande e depois me confessar.
A Marília que não ia gostar, a não ser que pudesse confessar do lado de fora da igreja rs...rs...
Confesso que nunca confessei. Então, era realmente uma missão.
Primeiro não queria ir. Mas algo me dizia que o momento inaugural de fazer uma confissão era aquele.
Fiquei sabendo que seria uma missa especial e que a confissão seria de maneira diferente da tradicional.
Eu pecadora poderia escrever meus pecados infames em um papel , e lá na hora derradeira entregar para o padre ler.
Veja só que idéia maravilhosa. Não precisava falar. E como sou boa mesmo em escrever ( desculpe a modéstia), seria bem mais fácil.
Colocar no papel aquilo que fizemos, é bem melhor do que colocar em voz alta. Em voz alta e em bom tom!
Sei que o padre é meio surdinho, por isso bem melhor escrever já que não poderia sussurrar.
Nunca me confessei. Bom isto eu já contei. Mas estou me repetindo, por que até hoje estou admirada com minha coragem. Levei trinta e sete anos para isto! Acho que é motivo de comemoração!
Bom , primeiro a missa. Senta ,levanta, benze, ora, canta ( nunca canto, sou muito desafinada, fico mexendo os lábios , dublando).
Na mão o papelzinho e caneta, todos ganharam no início da misssa , bem na porta, logo na chegada.
Até brinquei com meu marido, perguntei a ele se queria um rolo de papel higiênico. Porque o papelzinho era "inho" mesmo, tive que usar os dois lados da folha.
A confissão era conduzida. Um telão ao lado do altar ia sugerindo possíveis formas de pecar. Se você se encaixasse em alguma delas, era só lascar no papelzinho.
Escrevi tudo bem depressinha. Comecei a esticar o olho para o papel do meu marido. Quem sabe eu descobria algo comprometedor? Ele claro, percebeu minhas manobras e praticamente se deitou embaixo do banco a fim de evitar meus olhares indiscretos!
Me enterti então, olhando para o de minha sogra que sentava do meu outro lado. Não entendi nada ,ela tem letra de médico.
Pronto os papeizinhos, passamos a escolher o padre.
Não muito velho...Não muito conhecido... Não fila muito comprida...
Fomos para a fila do de óculos. Ele não ia precisar de ajuda para ler afinal tinha quatro olhos.
O problema é que a fila dele não andava. E eu ,com uma baita fome!
Olhamos as outras filas. Como sou a mais esperta e astuta, percebi uma fila que parecia andar bem mais rapidamente.
Logo entendi o motivo, só havia aborrecentes . Que pecados podem ter aborrescentes? Além de escutar funk e mascar chicletes pegajosos nos ouvidos dos mais velhos?
Dito e feito o padre lia, colocava a mão na cabeça deles e mandava embora.
Depressa puxei meu marido para aquela fila. E após alguns minutos estava eu entregando minha primeira confissão. E o melhor de tudo em forma de crônica!!!Pra que melhor do que isto?
Ele leu ,sorriu, abençoou e mandou rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria. Simples assim!!
Acho que ele gostou da crônica...
Depois havia uma cerimônia onde os papeizinhos seriam queimados.
Como a fome estava grande e as filas ainda enormes, decidimos nós mesmos queimarmos os papeis em casa.
O meu não está mais na bolsa. Mas o do meu marido... Esta no bolso da camisa dele!!
Uma camisa preta... No bolso direito... No terceiro cabide... Na última porta do roupeiro...
Acho que vou parar de escrever agora e aproveitar que ele não está!!
Não isto seria muito invasivo.. E depois se eu não gostar mesmo do que eu ler? Coisa feia Simone!! Pensar uma coisa destas. Se fosse com você ia gostar?
Ponto final! Deixa o papel lá. Coisa feia.
Vou até ali no roupeiro, . Ele nem vai saber mesmo. Que que tem só uma espiadinha..
Depois eu conto pra vocês.
Ou não... Se eu não voltar ( para contar) pode ser que eu esteja no presídio.
Considerando o que eu possa ler naquele papelzinho! E me conhecendo bem...
Bom, eu estou indo...
Vou me levantar...
Fui!!
Tô indo...