Páscoa, novos tempos

Pela manhã, bem cedo, acordávamos ansiosos. Éramos vítimas da curiosidade, motivada pelos preparativos quase que misteriosos da véspera. Os adultos sussurravam e andavam na ponta dos pés, quando nós, crianças ainda, éramos obrigados a nos recolher para a cama, mesmo que não tivéssemos nem um pouco com sono.

Na noite anterior, os ninhos eram escondidos pela casa ou no terreiro que a circundava, escondidos atrás das árvores, moitas ou outros obstáculos dispostos estrategicamente para causar mais ebulição nos pequenos.

Com a Páscoa, sentimentos de religiosidade e de mistério povoavam nossas cabeças. Ouvíamos histórias acerca do Salvador e nos sentíamos presenteados por Ele quando descobríamos nossos ninhos, recheados de grandes ovos confeitados de açúcar, de casquinhas gordas de amendoins crocantes, de caramelos cítricos e muitos pirulitos.

Hoje, nossas crianças não acreditam mais na magia da Páscoa. Parece que perderam as referências. Ou talvez, nós adultos, é que as tenhamos perdido? O certo é que os pequenos, muito antes da data já começam a pedir pelos doces, pelos presentes. Não acreditam que coelho põe ovos de chocolates. Pelo menos não do tamanho dos ovos que são vendidos nos mercados.

Nesta Páscoa, observei, entretanto, o brilho nos olhos de meus três sobrinhos, quando receberam suas cestas de guloseimas. Olhinhos brilhantes. Como os nossos em outros tempos cintilavam. No fundo, mudam-se as épocas, os conceitos, as formas de compreender o mundo. Mas as crianças mantêm a sensibilidade. Seus olhares curiosos e desconfiados denunciam isso.

Oséias Santos de Oliveira

Professor, diretor de escola, membro da ASES / Associação Santa-rosense de Escritores

Santa Rosa – RS

oseias.ol@uol.com.br

Oséias Santos de Oliveira
Enviado por Oséias Santos de Oliveira em 25/03/2008
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