ARTES E CASTIGO DE UMA MENINA DE ORFANATO( continuação)

 

Certa curiosidade chamou a atenção de um grupinho de meninas e eu era uma delas, queríamos saber que cor tinha o pum, então combinamos de procurar ver, uma menina pegou uma caixa de fósforos vazia e fomos para o banheiro, uma se prontificou a soltar o pum e eu fui encarregada de aprisioná-lo na caixa, me coloquei em posição e mandei que a menina soltasse o pum, correndo fechei a caixa e curiosas fomos bem de vagar abri e para nossa surpresa não tinha nada levei uns sopapos e ainda fui chamada de burra porque havia o deixado fugir rsrsrs. Isso tínhamos entre cinco e seis anos.

As crianças bem menores eram cuidadas pelas maiores e eu era encarregada de alimentar um bebe, pela manha davam-lhe ”sorda  “ que significa pão picado num prato com leite e açúcar, era uma colher para o bebe e outra para mim, eu não fazia isso por maldade, mas simplesmente por criancice. Tínhamos hora para tudo éramos muito bem organizadas como falei em cada semana a escala mudava e os serviços eram trocados. Eram seis banheiros com chuveiro e seis com o vazo sanitário era um quadradinho bem pequeno que só cabia mesmo uma pessoa, mas em dias de dentista e de vacinas o banheiro cabia mais de cinco rsrsrs...

Freqüentávamos aula de teatro, não havia televisão e nossa distração era a leitura a escrita os bordados e as brincadeiras de rodas pique bandeira coisas que as crianças hoje em dia ignoram, pois não existe mais infância.

Eu tinha medo de tudo não conhecia nada fora do ambiente em que vivia no dia 6 de janeiro ouvíamos sempre uns batuques ao longe e diziam que eram homens fantasiados que comemoravam o dia de reis eu logo corria a me esconder com medo deles, pois achava que eles viriam até ao colégio nos assustar.

Mas sempre curiosa queria conhecer tudo saber de tudo e certa vez subi numa parede para bisbilhotar o que havia do outro lado cai sobre uma touceira de samambaia e acabei ficando um pedaço de seu galho cravado na cabeça e lá fui pro medico tirar e na volta mais castigo que era a escrita em folha de papel almaço.
No dia sete de Setembro íamos de caminhão todas arrumadinhas para a parada desfilar, e eu era uma porta bandeira e fazia aquilo com tanto orgulho como se estivesse sempre a representar.Ganhávamos roupa nova desde a fita do cabelo até os sapatos, a noitinha antes de dormir colocávamos tudo em nossos lugares no refeitório onde sentávamos para comer e na hora era só tomar o  banho nos vestir e ficar na fila para penterar o cabelo e colocar o laço de fita.

Hoje o que sou e o que aprendi devo muito a estas pessoas que com carinho me educaram, mesmo sofrendo tantos castigos e todos por sinal merecido, não guardo raiva de ninguém e com isso aprendi a amar ao meu próximo como a mim mesma, pois o que mais me ensinaram foi a respeito do amor e o bem que ele nos proporciona.

Hoje sou adulta, sou mãe e criei meu filho nos mesmos padrões de doutrina e me sinto realizada, pois tenho um ótimo filho e sinto muito orgulho de ser sua mãe.

Agradeço a Deus ter me colocado num bom lugar e peço sempre que outras crianças que estejam nas mesmas condições que um dia eu tive possam vir a conhecer pais adotivos maravilhoso como eu conheci e que tenha uma vida maravilhosa como a que tive mesmo tendo que escrever varias vezes frases grandes em folhas de papel almaço. rsrsrsr...

E muitas outras artes eu fiz, mas não quero cansar a vocês com minhas peraltices.

Beijos a todos que passarem por minha pagina para ler e conhecer um pouquinho mais de mim.

Quero deixar aqui uma quadrinha que muito representei em teatrinho com outra menina neste orfanato

ANGELICA
eu sou a veca
os encantos do lar
papai diz que sou sua boneca
sua boneca de biscuit.

ILZA
alto lá dona veca
ouça embora voce se lixe
a mamãe também me chama de boneca
sua bonequinha de piche.

ANGELICA ARANTES
Enviado por ANGELICA ARANTES em 16/03/2008
Reeditado em 16/03/2008
Código do texto: T903272