DIA DE PROCISSÃO
Era  dia mais festivo da cidade!8 de dezembro,dia da  Padroeira,N.Sra. da Conceição.Tudo em azul e branco,a cidade,a igreja,os meninos do Côro,as familias mobilizadas,caminhões descarregando romeiros,cheios de fé e esperança de ganhar o Céu,como os padres prometiam,porque,aqui na terra,tudo ia de mal a pior,com a seca e a fome.As missas se sucediam,igrejas lotadas,muitas flores,as angelicas,com seu cheiro adocicado,típico de missas e enterros.O cheiro forte do incenso.Eu e outras garotas,desde bem cedinho,acordadas,lavadas,penteadas,e,bem recomendadas pelas mães:não faça isto,aquilo não pode,não fale alto,nada de brincadeiras ou corre-corres,não belisque as pessoas,nada de riso alto,muito riso é sinal de pouco siso;Tudo isto.porque eu e as outras doze garotas,escilhidas a dedo,seriamos os anjos da procissão.Túnicas de cetim,branco,rosa-claro e azul celeste,cada grupo de quatro garotas,com uma cor,asas de papelão(o isopor,se inventado,não chegara ainda a este fim de mundo)cobertas de penas de pássaros ou galinhas brancas ou feitas de algodão.Singelos enfeites de cabeça,feitos de flores,naturais ou de seda,miosotis delicados,em tons pasteis,como convinha á inocencia das participantes e aos designios ecesiasticos;nada de excessos!Minha mãe participava de tudo,como Presidente da Ação Católica e diretora do colegio.Após a missa começava a arrumação do cortejo,á frente as Filhas de  Maria,veus finos,de tule ou filò,as fitas azuis no pescoço,os homens do Apostolado da Oração,os diáconos,os sacristãos,o pálio,com a imagem,enfeitado com ricos ouropeis,cheio de folres olorosas,cada casa da cidade mandava seus buquês-nós tínhamos uma  Rua das Flores,cada familia com seu jardim,cada jardim mais bem tratado,a dona de casa compenetrada,cuidando de tudo,para honra e gloria de Deus e da sua casa-.O padre e seus acólitos sob o pálio,o andor,carregado com muito cuidado e devoção,pelos próceres do lugar,os chamados Homens Bons da localidade,o prefeito,vereadores,o médico,o chete de policia,os homens do alto comercio,os fazendeiros ricos.Atrás,vinha o povo.Todos cantavam as ladainhas eo Bendito.Todos contritos,suando á bicas,nos seus ternos de "ver Deus"debaixo de um sol inclemente.Nossas procissões não eram imponentes como as da Capital,nem animadaas como as de Ouro Preto,ou riquissimasa como as de Sevilha,mas,tanta devoção parecia agradar a Santa,que nunca reclamou.O problema,neste ano,rea o padre.Coitado do Pe.Antonio,tinha vindo da Alemanha,era um egresso da guerra,não podia ouvir um barulho de bombas ou foguetes,que corria para o mato,apertando a cabeça com as duas mãos,desatinado.Como poderia haver procissão sem foguetorio?Mas,isto não era o pior;o padre não falava português,so uma meia dúzia de palavras triviais,que minha mãe,com a santa paciencia que Deus lhe dera,tentava meter na sua(dele)cachola.O padre era inteligente,com precisão germânica ia aprendendo  o trivial,mas,era dose,em tão pouco tempo escrever e ler sermões e tocar o dia a dia da Igreja;a sorte é que,naquele tempo,as missas eram rezadas em Latim.Minha mãe escrevia os sermões,lhe ensinava a pronuncia,com paciencia e determinação,e assim,a coisa andava.Mas,êsse era um dia especial,sermão caprichado,longo,com o sotaque cerrado do padre ninguem entendia nada.Mas,cabia ao padre,tambem,organizar o cortejo;e,aí,o bicho pegou;na frente iam os homens,atrás,as mulheres,o pare,a santa ,precedida pelos anjinhos,as ordens religiosas,e,por fim,o povo.Dificil era o padre explicar tudo isto,sem falar português e com aquele cerrado sotaque bavariano.Saiu esta pérola:La procission é combosta de omens e mulieres;omens pro riba,mulieres por baicho;favor non trocar la posicion.m vez de procissão,quase sai o Kama-Sutra.
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 10/03/2008
Código do texto: T894997
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.