LOLITA

Poucos conhecem Lolita. Poucos mesmo, porque apesar de seu nome jogar as nossas mentes na confusão de algum clube noturno ou na primeira fila de um espetáculo de dança ou no meio de um set de filmagens de alguma película picante, Lolita é extremamente tímida. Então, Lolita tem poucos amigos no seu círculo. Lolita é recatada (boa palavra). Recatada. E fraca para a bebida. Mas Lolita bebe. Sim, amigos, Lolita bebe muito.

Lolita não descobriu ainda se a sua fraqueza está relacionada à tentação de beber ou às reações que a bebida causa no seu corpo magro.

Algo acontece com Lolita quando ela ouve o ruído peculiar que o abridor faz ao arrancar a tampa de uma garrafa que esconde em seu interior aquele elixir divino, composto de lúpulo e cevada. Algo que faz com que ela perca as palavras no meio de tanta ansiedade. O que Lolita sente ao perceber o cheiro da mistura de limão e açúcar espalhado pelo ar, como uma bruma mágica saída diretamente de algum conto de Tolkien, apenas aguardando a inclusão de algum líquido destilado, é algo que não me atrevo a tentar descrever. E bombons recheados de licor...? Lolita mataria por eles. Essa é a parte da tentação...

Um rio sem medo de encontrar o mar. Foi assim que Lolita um dia descreveu aos seus poucos amigos o que estava acontecendo dentro de seu corpo com o líquido que acabara de ingerir. Aquele líquido de cor púrpura que havia nascido na sombra e que, no passado, havia sido oferecido aos deuses. Suas pernas leves e seus lábios trêmulos no momento do encontro com a taça, não deixavam dúvidas: o universo era simples e os seus segredos não estavam tão bem guardados assim. Essa é a parte das reações...

- E então, Lolita! Pronta para a saideira?

- Quem é que está falando?

- Sou eu, o mestre da sua fraqueza.

- Quem?

- Eu mesmo, o mentor das suas ações. Aqui dentro da sua cabeça.

- Seu mentor, dá licença, sai do meu porre e principalmente da minha cabeça, que eu preciso beber mais um pouquinho...