DESAPARECI E FUI PARAR NUMA...

DESAPARECI E FUI PARAR NUMA...

CHEIA DE IDÉIAS...

Marília L. Paixão

Será que foi do mapa em que estava? Estava eu no mapa que te agrada? Estava em mapa errado, tipo de cabeça para baixo ou debaixo para cima, sem diálogo ou sem rima, sem espaço ou sem guarida? Será que tinha desaparecido minha flora, minha pupila, meus encantos e minha brisa?

E onde fui parar depois de perdida as ruas verdes? Quantas ruas urbanas atravessei sem olhar direito? Como se sentiram meus pés descalços, mas cobertos de fome? Seria sede de viver mais que o entardecer? Seria pressa de te encontrar, amigo em outro lugar? Seria sonho essa agonia em que o ser se contamina e atropelado por uma roda gigante, roda, roda, sem parar e não sabe onde está?!

Onde estou?! Que mundo é este?! Ainda ontem tudo parecia verde! Agora tudo é branco. Ou me deu branco?! E você aí parado rindo para mim com cara de coelho, nunca também se olhou no espelho?! Não vai parar de rir???

- Vou sim! Mas é que você está em minha cartola! Disse sem parar de sorrir..

Foi aí que percebi que tirando a cartola não existia outra cor... tudo parecia da cor de isopor!

Eu estava muito bem no mundo verde! Eu bem que queria dar uma desaparecida, mas era para as pessoas sentirem um pouco a minha falta, eu não queria virar uma pagina pálida, sem linhas nenhuma, sequer tortas, e vim parar aqui neste mundo que parece vazio, que parece qualquer coisa que a gente não entende. Será um desenho animado? Vim parar num enredo errado? Agora eu aqui com este coelho e nem vejo nenhum mato. Será que é aqui que eu me mato?! Minha vida terá um final trágico?!

Todo mundo tem seus momentos em que se cansa desta vida de gente e dá vontade ser um ser mais inteligente, mais bem dotado, mais terrível ou mais indomável! Na verdade cada um quer ter um poder diferente. Se formos enumerar os pensamentos humanos todos teríamos que ser filósofos. E agora aqui estou eu perdida neste mundo branco onde só vejo este coelho rindo dos meus... O que será que ele achou tão engraçado em mim? Será a idade? Será a pouca vaidade? Será que estou com uma cara muito feia? Será que não trouxe nenhum batom comigo?! Neste mundo branco qualquer batom seria de muita valia. Será que bastaria para ele não ficar rindo desta minha simples máscara da vida? Será que coelho não sabe que as aparências enganam? Será que ele nasceu depois que a Elis Regina tinha morrido?! Ela cantava dizendo que as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam.

Eu é que não vou ficar explicando para este coelho sobre outros terrenos belos em que toda alma se espelha. Como é que coelho vai entender que por dentro eu tenho minhas partes belas?! Bom, pelo menos parece que parou de rir a criatura. Será que lê pensamentos?

- Bem-vinda!

- Como assim, bem-vinda?! Você já sabia que eu vinha?!

- Eu sou o coelho da paciência!

- Como é que é?!

- Eu sou o coelho da paciência! PACIÊ...

- Isso eu entendi. Não estou com problema auditivo. Agora meu problema é visual! Daqui a pouco eu vou ver um coelho querendo me dar sermão. Deve ser um pesadelo.. daqueles que raramente eu tenho....r.s..rs... Mas com um coelho, eu nunca tive! Aposto que vou ouvir uma inteira palestra, mas esta cartola é seu palco, preciso sair dela.

- Você não quer trocar de lugar comigo?!

Apesar de quê estava me sentindo mais segura ali dentro. Era a única coisa preta daquele novo mundo. Tudo ao redor era branco.

- Não! Você pode ficar aí! Disse o coelho.

Você não veio por pura sorte. Essa Cartola está cheia de ternura e espera por você muitas coisas puras.

-Então não vou ouvir sermão?! Não vai me ensinar a como ter mais tolerância com jovens rebeldes ou indefinidos, com jovens petulantes ou descabidos?

- Não! Eu vou te convidar para nadar! Nadar em rios e mares, em poças, em cachoeiras e cascatas...

- Mas tem muito tempo que eu não nado!

- Está com medo?!

Medo eu?! Medo de um coelho branco, de uma terra branca, com certeza o mar seria branco e o rio seria preto ou vice versa?! Medo?! Nas ruas verdes por ando corro muito mais perigo e ainda sobrevivo! Medo! Como sentir medo dentro de uma cartola preta linda?! E ele nem vai pedir que eu saia de dentro dela... sinal que posso acordar a qualquer momento e voltar para minhas ruas verdes onde cada coisa tem sua cor. Medo nenhum! É tudo uma festa! Só não vive quem não se entrega. Cada um encontra o seu refugio. Cada um encontra seu tesouro. Cada um cava seu próprio ouro e eu estou me sentindo um coelhinho dentro de uma cartola mágica dentro do meu gol. A diferença é que por um triz ele deixou de ser preto para ser prata.

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 07/03/2008
Reeditado em 07/03/2008
Código do texto: T890872
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.