Detetives, princesas e magia

Crianças deveriam ser escritoras. Afinal, não há nada mais rico do que a imaginação dos pequenos, as fantasias que eles tecem e os sonhos que eles sonham. Criança pode ser e pode fazer qualquer coisa - ou alguém duvida que ela visite a lua num dia, vire uma superstar no outro e desvende um mistério no seguinte? Não importa a raça ou a classe social: sonhar é uma condição fundamental e inerente à infância. É pena que, quando crescemos, quase sempre deixamos de lado esse mundo de magia e faz-de-conta....

Eu, por exemplo, agora sou uma simples jornalista, mas já fui professora, médica, atriz, paquita, escritora de sucesso, atleta e até mesmo princesa perdida na floresta - e tudo isso antes dos meus 11, 12 anos. Ah, e ia esquecendo o mais importante: fui detetive! Sim, detetive, líder de um grupo de seis garotas que investigava os mais estranhos casos que (não) aconteciam na minha pequena e tranqüila cidadezinha de Pirapó. Até um fantasma fajuto que queria descobrir um segredo de família nós desmascaramos (Loraine, Loivane, Viviane, Verenice e Rosane, se estiverem lendo esta crônica, vocês lembram?).

E os sonhos não paravam por aí. Vivíamos as fantasias, aprendíamos e crescíamos com elas. Quantas histórias que criamos e acabamos tornando "reais" por meio de peças de teatro na escola? Quantos personagens que só existiam na nossa imaginação mas que, de tanto que convivíamos com eles, quase acabávamos acreditando que existissem de verdade? Nunca vou esquecer daquele "bicho invisível" que eu e a Carmem inventamos para assustar a pobre Daniela, mais pequena que nós, e que depois "seqüestrou" a garotinha sem a nossa interferência - na ocasião, ficamos sem saber se a imaginação dela era ainda maior do que a nossa ou se o tal monstro criara vida própria, fora do nosso controle.

Era um mundo mágico e um tempo mágico, e o mais incrível era que os responsáveis por toda aquela magia éramos nós mesmos. Nunca fiz nenhum coelho sair da cartola, mas fiz bolos de barro decorados com flores se tornarem a sobremesa mais saborosa, cabanas de lençóis virarem um abrigo em meio à mata selvagem e príncipes encantados surgirem do nada para me salvar nos momentos de perigo...

As histórias daqueles anos que agora parecem tão distantes e impossíveis são tantas que uma crônica não é suficiente para contar. Mas recordar pelo menos um pouquinho me ajuda a perceber como foi bom aquele tempo, e quão fundamental para que eu me tornasse adulta. E é por isso que, enquanto as crianças sonham em crescer, muitas vezes eu me pego sonhando em voltar a ser criança...

Maristela Scheuer Deves
Enviado por Maristela Scheuer Deves em 04/03/2008
Código do texto: T887280
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