Gelo no Copo
Nunca consegui entender certas coisas. Falta de conhecimento? Talvez. Ou, então, certas coisas realmente não têm explicação. É o caso do "companheirismo de copo". Quero dizer, dos ditos amigos que se encontram todo final de semana para beber juntos e jogar conversa fora, num barzinho qualquer da cidade.
Não querendo menosprezar nem um pouco essa tradição, digamos, tupiniquim do Homo Sapiens, a de beber com os amigos de vez em quando, a questão é saber até onde vai esse "companheirismo de copo". Se um dos integrantes dessa geração "gelo no copo" resolvesse, por exemplo, promover um evento cultural na cidade, quantos dos seus amigos iriam prestigiar? Não vale mentir. Geralmente os eventos culturais contam com um livro de presença e o nome dos "companheiros de copo" nunca está lá... por quê, hein?
Sentados à mesa de um bar tomando uma cervejinha gelada, são amicíssimos, reclamam juntos da falta de opção na cidade, mas não comparecem aos eventos culturais, mesmo quando realizado por um amigo. As desculpas são as mais criativas possíveis: o tio estava com xixi na urina; a novela ia passar um capítulo inédito; tinha um compromisso inadiável; estava chovendo ou, então, era aquela maldita dor-de-cabeça de última hora... dos "companheiros de copo" quem compareceu mesmo foi o coitado que promoveu o evento. O engraçado é que, no próximo final de semana (pasmem!!!), lá estarão eles novamente reunidos à mesa de um barzinho ou pizzaria, sem nenhum tio doente, sem nenhum compromisso e, de copo na mão, irão sorrir novamente, consolando o pobre "companheiro de copo" metido à artista, incentivando-o a cair na real, que Arte não tem vez no Brasil, que ninguém colabora... é, são coisas da geração "gelo no copo".