LOUCURA DE AMOR...

Sempre acreditei nas instituições, mesmo sabendo que são propensas a inúmeros erros. Se o homem erra, logo tudo que está em volta dele e com ele por estar fadado ao erro. Ainda bem que existe o perdão e o reconhecimento de nossas falhas, embora em muitos momentos não sabemos os valores implícitos nestas palavras mágicas.

Pois bem, ontem passei por um episódio que vislumbrei um possível erro, não meu, mas de uma Instituição ligada à psiquiatria.

Não sei se é dádiva ou se é por merecer, mas adoro o contato com minha família. Tenho um sobrinho que desde pequeno conviveu junto a mim e meus irmãos, então, tornou-se um amigo irmão. Tanto é assim, que ele é padrinho de minha filha.

Ocorre que esse meu compadre, com seus 27 anos, encontra-se desempregado faz uns 08 (oito) meses e ainda, começou a frequentar uma igreja evangélica, chamada BETEL, nada contra opção religiosa. Entretanto, na última semana, o pastor dessa igreja disse ao meu amado sobrinho que teve uma revelação divina, tinha visto muitas flores ao lado dele (meu sobrinho) e que era para tomar cuidado. O diabo estava precisando dele.

Então, diante desse arcabouço de suspense, tendo em vista que a palavra desse iluminado pastor, seria realmente uma revelação, meu sobrinho quase "pirou", melhor, foi encaminhado a um manicômio. Estava com medo de tudo que ia fazer e, no fim de semana, entrou em uma tremenda crise de choro. Justamente no fim de semana em que eu estava viajando.

Quando me avisaram desse episódio, ontem, quem quase ficou louco fui eu. Minha irmã ligou para mim, dizendo que estava muito irritada e que iria ao Ministério Público fazer uma denúncia. Haja vista que a declaração do pastor foi em alto tom dentro da própria igreja, deixando meu compadre em tremendas "saias justas". De pronto, fiz a pergunta de interesse: onde está ele? Para minha surpresa, disse-me que estaria internado no Hospital Psiquiátrico. De imediato, como num toque mágico em minha sensibilidade, afloraram-se do meus olhos uma cachoeira de lágrimas. Contive-me e fui direto ao Hospital.

Quando lá cheguei, inicialmente, não quiseram me mostrar o prontuário de meu sobrinho. Então delicadamente e com muito jeitinho consegui obtê-lo. Tratava-se de uma provável psicose sem definição ainda. Teria que ficar em observação por uns 04 (quatro) dias, tomando não sei quantos remédios para os nervos...

Não sou médico, mas acredito que seja viável mais de um parecer, principalmente nesses casos súbitos. Daí, fiz alguns contatos com outros locais e, em ato contínuo, solicitei a quem de direito a devida liberação de meu sobrinho daquele hospital. O que foi fácil.

Quando já em outra clínica psiquiátrica, em nova consulta, obtivemos como resposta que o caso do meu compadre era depressão e que, via-de-regra, não precisaria ser internado para avaliação.

A caminho de casa, dentro de meu carro, meu sobrinho agradeceu-me de uma forma tão sutil e engrandecedora, dizendo que jamais esqueceria o que fiz. Só de lembrar o aspecto daquele hospital ele já ficava amedrontado. Trata-se de um hospital público, o que não é elementar para qualificar o profissionalismo dos especialistas dali. O que é de assustar é realmente a grande quantidade de pacientes que ficam no pátio, alguns apresentando quadros mais avançados. Enfim, não quero aventurar em tecer críticas ao sistema, não sou competente para tal.

O que importa saber é que, loucura maior é cruzar os braços e deixar os acontecimentos seguirem rumos incertos.

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 26/02/2008
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