DESABAFO DE DEUS

Eu fui dar um passeio à terra de novo.

E muito pouco andei e comecei a perceber:

Eles me olham e não me vêem.

Falam de mim e não me dirigem a palavra.

Encontram comigo, esbarram em mim e não me percebem.

Eu apenas ouço o vozear deles.

Muitos deles tiram a vida ou deixam-na totalmente sem qualidade.

Muitos usam drogas, vendem essa porcaria, algumas são até lícitas.

Em alguns lugares são todas franqueadas.

Usam armas, matam e morrem em nome de nada.

E o mais curioso é que a maioria não caminha em minha direção.

Em cada esquina que vou passando, vejo tantos e tantos perambulando.

Eles vão depressa e num desvario assustador.

São depressivos, estressados, medrosos, inseguros...

Gritam meu nome a toda hora, dizem que pelo meu amor não os faça nenhum mal.

Olho todos e por toda parte e percebo que é uma aglomeração igual.

Sejam nas ruas, calçadas, ônibus, carros, bares, lanchonetes, não importa,

Em todos os lugares eles se apresentam dessa forma, parece mais uma epidemia de trevas.

A sensação que tenho é de que eles vivem uma amofinada vida.

E não foi essa a vida que criei e dei a cada um deles.

Todos me conhecem de nome, mas pelo que parece não interessam por mim.

Estou tão perto deles e pareço tão distante!

São muitas vozes teoricamente ao meu favor,

mas essas vozes também têm muitas formas de matar.

Muita gente mesmo que não me conhece direito.

Nem parece que criei tudo isso.

Muitos não querem existir para mim, vivem como se eu não fosse.

Outras vezes, sou eu que não existo para muitos, não porque não quero.

Até parece que nunca chamei essa multidão de amiga.

“Vocês são meus amigos”...

São pessoas que parecem perdidas, indo do nada para lugar nenhum.

O mais incrível é que aqueles que vivem longe dessa civilização moderna,

Sentem a minha presença e reconhecem-me e até me chamam de Senhor.

Será que a modernidade que o ser humano conseguiu conquistar,

Através da inteligência que eu lhe dei, não teve utilidade?

Por que será que aqueles que não aderiram por falta de oportunidade a essas novidades,

Ainda continuam comigo?

Por que será que essa multidão que criei para ser Luz ficou tão mentecapta!

Será que errei em dar a inteligência e o livre arbítrio ao ser humano que criei?

Oh meu Eu!

Acácio